A pandemia de covid-19 não poderia ter chegado numa pior altura, em que o futebol feminino estava a crescer de vento em popa. Os clubes femininos arriscam perder patrocínios e financiamento.
O futebol feminino fez grandes progressos nos últimos anos. Os jogos continuam a bater recordes de assistência com cada vez mais regularidade. A final da Taça de Portugal da época passada, entre Benfica e Valadares Gaia, atingiu um recorde de assistência num jogo de futebol feminino oficial em Portugal, estabelecido em 12.632 espetadores.
Um estudo recente no Reino Unido sugeriu que um terço dos adultos está interessado no jogo das mulheres e 69% deles acredita que merece o mesmo perfil que o futebol masculino.
No entanto, a pandemia de coronavírus deixou o desporto numa posição precária. Embora a suspensão do futebol de elite em Inglaterra tenha sido aplicada inicialmente uniformemente às competições de homens e mulheres, haverá consequências mais profundas e de maior alcance para o jogo das mulheres.
Em Portugal, a Liga portuguesa de futebol feminino foi cancelada, embora a Liga NOS tenha retomado este mês. Esta disparidade de critérios levantou algumas questões de igualdade de géneros.
Um estudo recentemente publicado na revista científica Managing Sport and Leisure destaca por que a pandemia está a afetar o futebol de homens e mulheres de maneira diferente.
Antes da pandemia, o futebol feminino de elite já enfrentava vários problemas: campos maltratados, salários mais baixos, e prémios e condições muito atrás dos clubes masculinos. O maior desafio para o futebol feminino é que as equipes de elite confiam nos patrocínios para obter rendimento. Por exemplo, 80% da receita do Manchester City Women é proveniente de atividades comerciais, a maioria das quais é patrocínio.
O desporto feminino também é subfinanciado quando comparado ao masculino em termos de marketing e prémios. Também é provável que a covid-19 atinja fortemente os lucros de muitas empresas, deixando empresas que antes desejavam investir no futebol feminino incapazes de o fazer. Se isso fizer com que o pool de patrocinadores encolha, o futuro do futebol feminino estará sob ameaça.
There's acceptance that women's clubs can't afford to end the season but it didn't need to be predestined.
Our FA Cup Prize money campaign isn't philosophical. It's cash. It's careers. It's fulfilled potential. Clubs would've been able to finish the season – had they been male. https://t.co/fK8yzCTAgl
— Maggie Murphy (@MaggieMrphy) May 29, 2020
Ao mesmo tempo, a pressão financeira sobre o futebol masculino significa que o futebol feminino pode ser uma das baixas. A maioria das equipas femininas de elite são secundárias sob o guarda-chuva do clube masculino profissional. Existem inúmeros exemplos na história recente em que a despromoção ou as dificuldades financeiras para o clube masculino resultaram no rompimento dos laços com a equipa feminina.
Por exemplo, quando o clube masculino retirou o seu apoio financeiro em 2017, o clube feminino de Notts County entrou em colapso no dia anterior à nova temporada, deixando as suas jogadoras desempregadas e, em alguns casos, sem teto. Quando as equipas masculinas cortam laços assim, as equipas femininas podem ficar sem opção a não ser desistir.
"People are now homeless and jobless" – Notts Ladies & @lioness goalkeeper Carly Telford on the closure of the Lady Pies… pic.twitter.com/LdGOxyMIBS
— BBC Nottingham Sport (@BBCRNS) April 21, 2017
Com a The Football Association, a federação inglesa de futebol, a estimar prejuízos a rondar as 100 milhões de libras, nada garante que o futebol feminino continue a ser financiado da mesma forma pela federação.
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