Do “tiki-taka” ao calvário. O que mudou em Barcelona, que ditou o fim de uma era

Já vão longe os dias do “tiki-taka” de Guardiola no Barcelona. O clube perdeu a sua identidade e o desaire frente ao Bayern na Champions foi apenas o culminar disso.

Esta temporada, o Real Madrid sagrou-se campeão espanhol. Nos dez anos anteriores, o Barcelona venceu por sete vezes a competição, confirmando o seu estatuto de rey do futebol no nosso país vizinho. Sensivelmente no mesmo período, a nível europeu, o Barcelona venceu por três vezes a Liga dos Campeões (2008/09, 2010/11 e 2014/15).

Os dois primeiros feitos foram conseguidos sob a tutela de Pep Guardiola. O atual técnico do Manchester City pôs o Barcelona a jogar um estilo próprio de futebol, com inspiração nos ensinamentos de Johan Cruyff, que ficou mundialmente conhecido como “tiki-taka”.

Um futebol apoiado, com uma troca de bola rápida e passes curtos caracterizava a filosofia de Guardiola no Barcelona. A posse de bola era a prioridade, deixando os adversário a correr atrás da ‘redondinha’ enquanto o Barcelona controlava o jogo.

“É preciso passar a bola com uma intenção clara, com o objetivo de chegar ao golo. Não se trata só de ficar trocá-la”, explicou Guardiola, em 2014. Para o técnico espanhol, era preciso atrair a defesa adversária para um lado do campo e, a partir daí, com passes rápidos, chegar ao outro lado do terreno para explorar os espaços.

O próprio Cruyff mostrou-se rendido à forma de jogar do Barcelona: “Eu acho que da maneira que o Barcelona joga, é um prazer para todos que gostam de futebol, porque a qualidade técnica é o principal”, disse o ex-futebolista holandês, em 2013.

No meio campo, Andrés Iniesta e Xavi Hernández eram os maestros da orquestra catalã. Os internacionais espanhóis, munidos da sua técnica e qualidade passe, serviam os atacantes na perfeição. Ao longo da era do “tiki-taka” foram vários os jogadores de classe mundial que alinharam no ataque. Para além de Messi, Thierry Henry, Samuel Eto’o, David Villa e Zlatan Ibrahimovic são apenas alguns exemplos.

Em 2015, o Barcelona voltou a conquistar a maior honra do futebol europeu, vencendo mais uma vez a Liga dos Campeões. Não só os jogadores mudaram, como também a filosofia do clube. Perdeu-se o “tiki-taka” de Guardiola e nasceu um novo ‘Barça’ sob as ordens de Luis Enrique, com destaque para o MSN: Messi, Suárez e Neymar.

O tridente ofensivo deste Barcelona era imparável. Só nessa temporada, os três marcaram 122 golos. Messi contribuiu com quase metade deles (58), o internacional brasileiro Neymar teve a sua época mais goleadora em Espanha (39) e Luis Suárez fez a sua época de estreia na Catalunha, marcando 25 golos.

Mais uma vez, o Barcelona ganhou tudo o que havia para ganhar. Na final da Champions, superou a Juventus, vencendo por 3-1. A par de Ronaldo, Messi e Neymar foram os melhores marcadores da competição, com dez golos cada.

Cinco anos volvidos e, afinal, o que mudou em Barcelona?

Atropelamento histórico na Champions

Em jogo dos quartos-de-final da Liga dos Campeões, o Bayern goleou o Barcelona por impensáveis 8-2 – com 4-1 em cada uma das metades. Um resultado que se tornou na noite mais negra de sempre da formação catalã na Europa e que só espanta quem não viu o jogou ou as estatísticas finais do encontro.

O Bayern jogou numa espécie de 4-2-4, com Goretzka e Thiago Alcântara a distribuírem jogo para os quatro homens da frente. O Barcelona manteve-se fiel à sua estratégia e procurou pressionar a defesa germânica, impedindo que saíssem a jogar com qualidade.

No entanto, com o quarteto ofensivo nas suas costas, o meio-campo do Barcelona não podia ajudar muito na pressão, caso contrário ficaria demasiado exposto.

No final do encontro, a equipa do Barcelona estava desolada. O treinador espanhol Quique Setién foi a primeira baixa, deixando o cargo pouco tempo depois.

Desiludido com o projeto desportivo da equipa, Lionel Messi anunciou também a sua vontade em abandonar Camp Nou. Depois de uma novela sem fim, o internacional argentino acabou por admitir ficar, pelo menos, mais uma temporada.

O presidente do FC Barcelona, Josep Maria Bartomeu, é um dos principais visados da contestação à gestão do clube. O próprio Messi apontou o dedo ao presidente dos catalães, acusando-o de falhar com a sua palavra.

“Disse ao clube e, principalmente, ao presidente que queria ir embora. Disse isso o ano todo. Foi um ano muito complicado, sofri muito nos treinos, nos jogos e no balneário. Foi tudo muito difícil e chegou um momento em que planeei procurar novos objetivos, novos ares. Não foi por causa da derrota na Champions com o Bayern, já estava a pensar nessa decisão há muito tempo. Eu disse isso ao presidente e ele sempre disse que no fim da temporada eu podia decidir se queria ir ou ficar, mas no fim das contas ele não cumpriu com a sua palavra”, disse o argentino.

Hristo Stoichkov, ex-futebolista do Barcelona, foi uma das personalidades que também criticou Bartomeu.

“Mandou embora Valverde quando ia em primeiro na La Liga. Porque não o mandou embora depois dos 0-3 de Roma, ou do 0-4 de Liverpool ou depois de perder a final da Taça frente ao Valência?”, questionou o búlgaro.

“Sabes o que é mais preocupante? Que gastou mil milhões e não ganhou nada”, acrescentou.

De facto, nos anos recentes, o Barcelona protagonizou várias transferências sonantes de jogadores que acabaram por não corresponder às expectativas. Desde a Antoine Griezamnn a Phillipe Coutinho ou Ousmane Dembélé, a lista está recheada de milhões que não viram retorno.

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