Inédito: Portugal começou um jogo sem jogadores da liga portuguesa

Pepe e Rui Patrício

O campeonato português não teve qualquer representante no 11 inicial contra a França. Nunca tinha acontecido num jogo oficial da seleção nacional portuguesa.

Rui Patrício, do Wolverhampton; João Cancelo, Rúben Dias e Bernardo Silva, todos do Manchester City; José Fonte (Lille); Raphaël Guerreiro (Borussia Dortmund); Danilo (PSG); William (Bétis); Bruno Fernandes (Manchester United); João Félix (Atlético de Madrid); Cristiano Ronaldo (Juventus).

Foram estes os 11 futebolistas escolhidos por Fernando Santos para iniciar a receção à França, no jogo decisivo da Liga das Nações, que terminou com vitória francesa por 1-0. São 11 jogadores portugueses…e nenhum joga por um clube português. Nunca tinha acontecido.

Uma seleção portuguesa totalmente “estrangeira” – nunca se tinha verificado num jogo oficial da equipa das quinas. Analisámos os calendários de todos os Mundiais e Europeus (qualificação e fases finais), a Taça das Confederações 2017, as duas edições da Liga das Nações… Nunca tinha acontecido.

Pelo menos o guarda-redes jogava em Portugal (exceção para Ricardo, quando saiu do Sporting para o Betis, e para o atual Rui Patrício, desde que também deixou Alvalade); ou, na recente Liga das Nações, pelo menos Rúben Dias representava sempre o campeonato português. Agora Rui Patrício e Rúben Dias estão em Inglaterra.

Não é propriamente uma novidade olhar para a sele̵ção portuguesa e verificar que a grande maioria representa clubes estrangeiros. Nos jogos deste ano, 2020, ainda ia havendo a dupla de centrais “certinha”, com Pepe e Rúben Dias, e ainda Danilo, a colocarem FC Porto e Benfica na equipa. Rúben Dias e Danilo saíram de Portugal, Pepe estava lesionado… Zero resistentes.

Os resistentes nas fases finais

E este cenário não é recente. Se olharmos só para as fases finais das grandes competições, recuamos até 2006 e vemos que, no Mundial desse ano, Ricardo, na altura guarda-redes do Sporting, era o único titular habitual do campeonato português na seleção comandada por Scolari.

De 2006 para trás é fácil encontrar futebolistas do campeonato português em qualquer jogo de uma grande competição. Até porque, no mínimo, metade dos convocados para cada Europeu ou Mundial jogava em Portugal (ou mesmo a totalidade jogava num clube luso, se recuarmos ainda mais até ao Mundial 1966 e 1986 e até ao Europeu 1984).

De 2006 para a frente as coisas mudaram. No Europeu 2008 os resistentes no onze inicial habitual eram Bosingwa, Petit, João Moutinho e Nuno Gomes. Quatro jogadores da liga portuguesa – o número mais alto durante mais de uma década.

No Mundial 2010 jogavam Eduardo, Fábio Coentrão e Raúl Meireles. No Europeu 2012 eram Rui Patrício, João Pereira e João Moutinho.

No Mundial 2014 aconteceu algo curioso: no primeiro jogo, frente à Alemanha, só jogou Rui Patrício do campeonato português; no segundo encontro, com os Estados Unidos da América, Rui Patrício foi para o banco mas entrou André Almeida; no terceiro e último compromisso, nem Rui Patrício, nem André Almeida foram titulares – mas William Carvalho, Rúben Amorim e Éder foram.

Até que no famoso Europeu 2016, o Sporting comandou a baliza e o meio-campo, com a presença no onze inicial de Rui Patrício, William, Adrien e João Mário. Renato Sanches também foi titular, na final, por exemplo.

No último grande torneio, o Mundial 2018, Rui Patrício e William Carvalho foram titulares – sim, ambos já estavam de saída do Sporting depois do episódio em Alcochete, mas ainda tinham contrato com o clube de Alvalade nas datas dos jogos na Rússia.

Até que o dia 14 de novembro de 2020 fica para a história da seleção portuguesa, nesta particularidade: os 11 titulares estão em clubes estrangeiros.

E essa totalidade de jogadores de ligas estrangeiras quase durou o jogo todo contra a França, no Estádio da Luz. Só a cinco minutos do final, quando entraram Sérgio Oliveira (FC Porto) e Paulinho (Sporting de Braga) é que passou a haver emblemas portugueses representados na seleção nacional portuguesa. Porque os outros suplentes utilizados foram: Diogo Jota (Liverpool), João Moutinho (Wolverhampton) e Trincão (Barcelona).

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