O Benfica vive tempos turbulentos devido aos maus resultados da equipa de futebol. A crise originou o movimento “Rua Vi€ira” para mostrar a insatisfação com Luís Filipe Vieira, mas o presidente também está descontente com o desempenho de Jorge Jesus que, por sua vez, está desiludido com a direcção.
Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. O ditado popular aplica-se na perfeição à realidade actual do Benfica que, depois do empate em Faro, ficou a 15 pontos de distância do Sporting, que lidera o campeonato.
Os maus resultados da equipa estão a criar mal-estar no seio do clube, entre o presidente e o treinador, mas também com outros elementos da direcção.
Os adeptos estão igualmente muito descontentes e já se gerou o Movimento “Rua Vi€ira” que marcou um protesto para esta quarta-feira, com um buzinão na rotunda Cosme Damião, junto ao Estádio da Luz, às 19:04 horas. A hora é uma referência ao ano de fundação do Benfica, 1904.
Em algumas zonas de Lisboa, têm surgido placas com a inscrição “Rua Vi€ira”.
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“Clima de guerra fria entre Vieira e Jesus”
Entretanto, no seio do clube há “um clima de guerra fria entre Luís Filipe Vieira e Jorge Jesus”, segundo avança o Record.
O desportivo sublinha que Vieira está desagradado com os resultados do treinador que ele próprio escolheu e que se empenhou directamente em contratar, deslocando-se pessoalmente ao Brasil para o fazer regressar à Luz.
Vieira já “não disfarça o desencanto por a aposta nos valores da formação ter sido abandonada”, aponta o Record.
Contudo, o presidente da Luz não pretende demitir Jorge Jesus, até porque seria muito caro fazê-lo, pois tem contrato até final de Junho de 2022.
Mas Vieira está receptivo a deixar sair Jesus caso ele se demita, ainda de acordo com o mesmo jornal.
Enquanto isso, Jesus também está “desiludido, pois considera que não lhe foi cumprida a promessa de ser formada uma superequipa”, apesar de ter sido feito um investimento superior a 100 milhões de euros em contratações.
O treinador entende que “ficaram por contratar alguns jogadores e posições-chave por preencher”, frisa o Record.
Plantel “desgastado e desmoralizado”
O próprio plantel do Benfica estará “desgastado e desmoralizado”, segundo A Bola que frisa que alguns jogadores “se sentem desprotegidos e demasiado expostos quanto à responsabilidade pela crise”.
O grupo estará abalado com as “críticas, insultos e ameaças que chegam do exterior”.
Por outro lado, há também um “descontentamento generalizado nos órgãos sociais do Benfica”, frisa o Record, considerando que “alguns dirigentes já tinham manifestado reservas quanto ao regresso de Jesus, mas a insatisfação tem subido de tom”.
“Numa situação normal, Jesus já não estaria”
Para o antigo vice-presidente do clube, Gaspar Ramos, é evidente que “numa situação normal, Jorge Jesus já não estaria, neste momento, a treinar o Benfica”.
O treinador continua no clube por estar “muito ligado ao presidente, que fez uma aposta” nele, sustenta o antigo dirigente em declarações à Rádio Renascença.
“É o treinador do presidente, portanto, hoje, a saída do Jorge Jesus enfraquece ainda mais a posição do presidente”, constata Gaspar Ramos, notando que “não é fácil a Luís Filipe Vieira tomar essa decisão”. “É por isso que, do meu ponto de vista, ele ainda não saiu, tal como já tinham saído o [Bruno] Lage e o Rui Vitória”, afirma.
Gaspar Ramos é contra eleições antecipadas, mas admite que esse cenário “pode acontecer”.
Bagão Félix desafia Vieira a dar “a cara”
O ex-ministro Bagão Félix, confesso benfiquista, também não é apologista de eleições antecipadas, mas sustenta, em declarações ao Diário de Notícias (DN), que “as pessoas que lá estão têm de saber que há alturas para entrar e alturas para sair“.
“Eleições de novo não são o caminho, mas Vieira tem de mudar o projeto e apresentar soluções aos sócios”, afiança.
Bagão Félix também aconselha Vieira a dar “a cara” e a explicar “a situação aos benfiquistas, sem demagogia e sem a conversa habitual de que a grandeza do Benfica não permite atirar a toalha ao chão”.
“Dê o campeonato como perdido, ninguém o vai censurar por isso, e mostre o caminho para o futuro”, sustenta, atirando que “a estratégia não pode estar sempre a mudar“.
“Uma hora é aposta na formação, outra é nos sul-americanos, outra é nos alemães, outra nos sérvios”, acrescenta, frisando que o facto de Vieira ter recuperado o clube “do seu período mais negro”, “não o isenta de culpas na actual situação, nem lhe dá carta-branca para o futuro”.
Bagão Félix também constata que “foi um risco fazer um investimento de 100 milhões de euros no mercado do Verão passado”. “Já se sabia que o futebol ia apertar o cinto e o Benfica alargou-o”, diz, alertando para o facto de o clube não ter lugar assegurado na Liga dos Campeões, nesta altura da época.
“Sem a montra da Champions, os jogadores não valorizam. E se um jogador não valoriza, não rende como activo e lá se vai mais uma possível fonte de receita, a da venda de jogadores”, aponta, frisando que, com os estádios vazios, “o único dinheiro a entrar são as verbas dos direitos televisivos”, o que “é pouco”. “Os milhões da Champions é que alimentam os clubes”, conclui.
Directores sem “capacidade”
Gaspar Ramos também critica que falta ao Benfica “uma estrutura adequada às necessidades de um grande clube”, considerando que alguns “directores desportivos e directores técnicos” não têm, “provavelmente, capacidade para isso”.
O ex-vice-presidente do Benfica revela à Renascença que disse a Vieira que “se ele não ganhasse no futebol, as pessoas iam-se esquecendo da grande obra que ele fez“, o que seria “uma pena”, diz.
“Temos de reconhecer que Luís Filipe Vieira fez e vai deixar uma grande obra no Benfica, mas pode sair pela porta pequena se não cuidar do futebol de uma maneira muito a sério”, aponta Gaspar Ramos.
Para o antigo “vice”, “eliminar o Arsenal” pode “trazer algum equilíbrio à situação, desde que se começasse a preparar o futuro”. E vencer a Taça de Portugal também pode “amenizar um pouco o clima” para começar a “projectar o futuro”.
Espera-se que Vieira aborde a situação do clube no próximo domingo, numa entrevista à Benfica TV, no âmbito do 117.º aniversário do clube.
[sc name=”assina” by=”Susana Valente, ZAP”]
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