“Fazemos a Superliga para salvar o futebol, a situação é dramática”. As palavras são de Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, um dos 12 clubes que anunciaram a criação de uma Superliga Europeia com os clubes mais ricos do mundo. O FC Porto rejeitou participar, mas o Benfica estará a tentar entrar.
A “bomba” da criação de uma Superliga Europeia, integrando os gigantes do futebol, como Barcelona, Real Madrid e Manchester United, está a suscitar críticas de todos os lados.
Pinto da Costa, presidente do FC Porto, já veio dizer que o clube foi convidado, mas que rejeitou participar. “Houve contactos informais, mas não demos grande atenção”, salientou o dirigente.
“A Federação Portuguesa de Futebol está contra e faz parte da UEFA e não podemos participar em algo que é contra os princípios e as regras da União Europeia e da UEFA. Estamos na Champions e esperamos continuar por muitos anos”, destacou ainda o líder portista.
Benfica desmente “lóbi” para entrar
Em sentido contrário, o Benfica estará interessado em integrar esta Superliga Europeia com prémios monetários mais elevados do que a Liga dos Campeões.
O jornal Record assegura que há “conversas no sentido de que o clube da Luz seja um dos cinco das ligas periféricas a fazerem parte da nova competição”.
“O Benfica está a envidar esforços” para integrar a Superliga Europeia e “há um lóbi em curso no sentido de mostrar a disponibilidade do clube” para integrar a prova, sublinha ainda o mesmo desportivo.
Mas, em comunicado, o Benfica assegura que “são inteiramente falsas as informações publicadas” pelo jornal e reforça “a sua total oposição ao projecto”.
“O Benfica foi o primeiro clube português a expressar publicamente a sua objecção a uma Superliga Europeia, em Novembro do ano passado, na sequência de uma entrevista do seu CEO, Domingos Soares de Oliveira”, aponta ainda o clube.
Essa entrevista foi concedida ao portal Off the Pitch e Soares de Oliveira manifestou, de facto, a sua opinião pessoal “contrária” à competição, mas salientou que se surgisse um convite para o Benfica participar, seria impossível recusar – “quase nem é preciso pensar“, notou na altura o CEO.
Em 2017, Luís Filipe Vieira também disse, em entrevista à CMTV, que o Benfica estava “a olhar com clareza” para a possibilidade de integrar a Superliga Europeia e que estava “a trabalhar afincadamente para isso”.
De qualquer modo, a título oficial, o Benfica reforça que está “solidário com a UEFA e com os valores do futebol europeu: meritocracia, solidariedade e inclusão“.
Em Alvalade, o presidente do Sporting, Frederico Varandas, assume-se contra a Superliga por ser “contra todos os princípios democráticos e de mérito que devem imperar no futebol”, conforme declarações à Lusa.
O presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), Pedro Proença, também critica a possível criação da Superliga europeia, considerando que seria “uma insanidade” que “colocaria em causa todos os alicerces” da modalidade, uma vez que é “pensada e desenhada por uma pequena elite com intenções exclusivas”.
Prémio de participação de 350 milhões para os mais ricos
A principal mais-valia desta Superliga Europeia para os clubes participantes são os elevados montantes dos prémios monetários.
Os clubes fundadores da prova vão receber “em conjunto, um pagamento de uma só vez de 3.500 milhões de euros dedicados unicamente a empreender planos de investimento em infraestruturas e a compensar o impacto da pandemia de Covid-19″, salientam os criadores da Superliga Europeia num comunicado citado pelo Mundo Deportivo.
Mas o valor a repartir pelos 12 fundadores e por mais 3 clubes convidados não será distribuído de forma equitativa. Haverá níveis de prémios conforme o “potencial económico” dos emblemas.
Real Madrid, Barcelona e Manchester United estarão no patamar mais alto e podem, assim, receber algo como 350 milhões de euros antes de esta temporada terminar, de acordo com o Mundo Deportivo.
AC Milan, Arsenal, Atlético de Madrid, Chelsea, Inter Milão, Juventus, Liverpool, Manchester City e Tottenham são os outros clubes fundadores da Superliga Europeia.
Além do primeiro patamar de prémios para os clubes com maior potencial económico, haverá ainda receitas de participação de 225 milhões de euros para os de nível 2, de 112,5 milhões para o nível 3 e de 100 milhões para o nível 4.
Valores bem mais interessantes do que os que a Liga dos Campeões da UEFA garante actualmente.
Em 2020, por exemplo, o Bayern de Munique sagrou-se campeão europeu num percurso imaculado até à final, em Lisboa, com 100% de vitórias, tendo amealhado 117,5 milhões de euros.
Foi uma verba recorde na prova, superando o anterior máximo de 110 milhões de euros que pertencia ao Barcelona, na época 2018/2019, quando os catalães nem sequer ganharam o troféu.
A financiar o “bolo” milionário da Superliga Europeia estarão Fundos de Investimento, entre os quais o JP Morgan, bem como investidores norte-americanos e chineses.
“Com receitas actuais da Champions, morremos”
A criação da Superliga Europeia é uma resposta à grave crise financeira provocada pela pandemia de covid-19. É o que assegura o presidente do Real Madrid, sublinhando que “a situação é dramática”.
“Fazemos a Superliga para salvar o futebol”, aponta Florentino Pérez, frisando que a modalidade está num “momento crítico, a ponto de se arruinar”.
“As audiências e os direitos audiovisuais vão baixando e era preciso fazer algo”, aponta o dirigente espanhol, frisando que “o futebol está em queda livre”.
“Se não fizermos nada, não durará muito. Deve evoluir, como a vida, as pessoas e as empresas. Tem que se adaptar aos tempos”, defende ainda o líder do Real Madrid.
“Com as receitas actuais da Champions, morremos. Os grandes, os medianos e os pequenos”, lamenta ainda Florentino Pérez, considerando que “cada vez há menos audiências e dinheiro”.
De acordo com o dirigente madrileno, os clubes mais importantes da Europa perderam 5 mil milhões de euros durante a pandemia. Ora, se o cenário já estava “delicado” antes da Covid-19, a crise sanitária agravou tudo.
O objectivo é realizar “jogos mais competitivos e atractivos para aliviar o dinheiro que se perdeu”, diz ainda o presidente do Real Madrid, notando que, actualmente, “há muitos jogos de pouca qualidade” na Liga dos Campeões e que, por isso, os jovens perderam o interesse pelo desporto.
“Não pode ser que na Liga ganhem dinheiro os clubes modestos e o Barcelona perca. Ou que em Inglaterra, as seis equipas da Superliga percam e os outros 14 ganhem”, aponta ainda.
“Uma cuspidela na cara do futebol”
O presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, já disse que “a Superliga é uma cuspidela na cara do futebol e da nossa sociedade”.
E o presidente da LaLiga Profissional de Futebol Espanhola, Javier Tebas, fala de um “projecto elitista e egoísta”.
O presidente do Bétis, Ángel Haro, já veio pedir “medidas contundentes”, nomeadamente para expulsar Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid, que integram a Superliga Europeia, do campeonato espanhol.
Haro avisa que as receitas com os direitos de televisão podem descer “40%” com a nova competição, o que será “muito grave” para os restantes clubes.
A Superliga Europeia terá um impacto negativo de 1.720 milhões de euros em receitas e de 59.878 em empregos, em Espanha, segundo a LaLiga.
O impacto económico levaria a uma redução de 66,1% no valor dos clubes que não disputem a Superliga e afectaria o Produto Interno Bruto (PIB) espanhol, passando dos actuais 1,37% para 0,93%, aponta ainda a LaLiga, conforme cita a agência EFE.
“Superliga não vai resolver problemas financeiros”
Também o presidente do Bayern de Munique, Karl-Heinz Rummenigge, está contra a criação da Superliga europeia, considerando que a nova competição “não vai resolver os problemas financeiros” provocados pela pandemia.
“Os clubes devem, sim, trabalhar em conjunto para assegurar que os custos, sobretudo os salários de jogadores e comissões de agentes, estão de acordo com as receitas, de forma a tornar todo o futebol europeu mais equilibrado”, aponta o dirigente num comunicado divulgado no site oficial do Bayern.
“Estamos convencidos de que o actual formato do futebol europeu garante bases sustentadas”, salienta Rummenigge, elogiando a UEFA pela “alteração feita ao formato da Liga dos Campeões”, porque diz que “é o passo certo para ajudar a desenvolver o futebol”.
“A mudança na fase de grupos vai contribuir para o aumento do entusiasmo e da emoção na competição”, nota.
Após a “bomba” da Superliga Europeia, a UEFA anunciou o alargamento da Liga dos Campeões de 32 para 36 clubes, a partir de 2024, numa Liga única, em que cada equipa joga contra 10 adversários, cinco jogos em casa e cinco jogos fora.
[sc name=”assina” by=”Susana Valente, ZAP”]
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