Um treinador sem medo de errar e um plantel que pouco o fez. As razões para o título do Sporting

O Sporting sagrou-se, esta terça-feira, campeão nacional. Há várias figuras responsáveis pelo título dos ‘leões’, desde Rúben Amorim ao talentoso plantel.

Apito final do Sporting CP-Boavista e os ‘leões’ voltam a conquistar o campeonato, 19 anos depois. Um feito histórico que pôs fim a um jejum de quase duas décadas, tirou a barriga de misérias aos adeptos sportinguistas e mostrou um modelo de sucesso para o futuro.

Com ainda duas jornadas por disputar, o Sporting já garantiu matematicamente a conquista do título, superando os seus rivais, FC Porto e SL Benfica. Embora não partissem para esta época como favoritos ao título, os ‘leões’ conseguiram superar as expectativas, levando para já um registo invicto no campeonato.

Numa temporada que ficará na memória dos sportinguistas para o resto da história, há várias razões que justificam o título: desde a aposta num técnico com poucas provas dadas até um plantel que mistura a ousadia da juventude com a solidez da experiência.

Rúben Amorim tem de ser visto como o principal orquestrador deste feito. O jovem técnico custou 10 milhões de euros aos cofres da SAD ‘leonina’ e, desde cedo, os mais céticos questionaram o avultado investimento. O antigo treinador do Sporting de Braga tornava-se, assim, o terceiro treinador mais caro de sempre.

Amorim começou a revolucionar o plantel: adotou um novo sistema tático com três centrais, apostou na formação e fez contratações acertadas.

O Sporting bem pode agradecer à solidez defensiva. Coates foi o patrão da defesa, com Feddal, Neto, Gonçalo Inácio e até Matheus Reis a acompanharem. Mas o segredo do emblema de Alvalade pode ter estado nos seus alas.

Na baliza é impossível ignorar Antonio Adán. O veterano de 33 anos foi várias vezes essencial para conservar a liderança do Sporting e justificou o roubo da titularidade a Luís Maximiano e Renan Ribeiro.

Do lado direito, Pedro Porro, emprestado pelo Manchester City, assumiu-se como uma das principais peças da equipa. Muito forte a atacar e aguerrido nos duelos defensivos, ofereceu ao Sporting o equilíbrio necessário. Na esquerda, a aposta em Nuno Mendes foi mais do que certeira. A habilidade técnica do miúdo de 18 anos deixou o mundo do futebol boquiaberto e deu profundidade ao corredor esquerdo dos ‘leões’.

Não é preciso subir muito no terreno para encontrar outro dos responsáveis pelo sucesso verde e branco. João Palhinha foi recondicionado por Rúben Amorim para o plantel sportinguista e as suas exibições falaram por si. Uma capacidade de recuperação de bola e desarme primordiais como há muito não era visto em Alvalade.

Pedro Gonçalves, mais conhecido como Pote, é, a par de Seferovic, o melhor marcador do campeonato até ao momento, com 18 golos. O ex-Famalicão fez lembrar a influência de Bruno Fernandes na equipa e mostrou todo o seu talento aos 22 anos de idade. Uma excelente visão de jogo e noção de espaço, que aliadas a uma frieza ofensiva peculiar culminaram no, provavelmente, melhor jogador da Liga deste ano.

João Mário, que regressou a Alvalade por empréstimo do Inter, também foi uma peça importante do xadrez sportinguista. A sua vasta experiência, apesar de ter apenas 28 anos, combinou bem com a irreverência da restante juventude do meio-campo.

Na frente de ataque, Paulinho chegou no inverno e foi criticado pela incapacidade de marcar golos. O internacional português foi a compra mais cara da história do Sporting e os adeptos esperavam golos da sua parte. No entanto, mesmo que não tenha feito as redes balançarem muitas vezes, o ex-Braga foi crucial na estratégia de Amorim.

“Um dos maiores feitos do futebol europeu na década”

A conquista do título de campeão português de futebol pelo Sporting está a ter eco na imprensa estrangeira, que destaca o fim do longo jejum dos ‘leões’, coroados quase duas décadas depois do último troféu arrecadado.

“Sporting sagra-se campeão, 19 anos depois do último título”, intitula o diário desportivo francês L’Équipe, salientando que “depois de 19 anos a ver o título nacional ser conquistado pelos rivais históricos, FC Porto e Benfica, o Sporting recuperou finalmente o título nacional”, depois de um triunfo por 1-0 sobre o Boavista.

Noutra peça, o L’Équipe chama o treinador Rúben Amorim para destaque: “Como Rúben Amorim transformou o Sporting para reconquistar o título.”

Em Espanha, o Mundo Deportivo alinha pelo mesmo diapasão, lembrando que “o Sporting se proclama campeão 19 anos depois” e que “o conjunto de Rúben Amorim continua sem perder na Liga lusa, tendo duas jornadas pela frente para conseguir terminar invicto o campeonato”.

Já o jornal Marca aponta as “10 razões para o Sporting ser campeão de Portugal 19 anos depois”, numa época em que “FC Porto e Benfica partiam como favoritos, mas acabaram por ser os ‘leões’, liderados por Rúben Amorim, a conquistar a sua primeira Liga desde 2001/02”.

Rúben Amorim, a ‘estrelinha’ de campeão, os compatriotas Adán e Porro, a competência nos jogos com os rivais e o facto de não ter tido jogos das competições europeias são alguns dos 10 pontos relevados pelo jornal espanhol, que faz ainda referência aos confrontos que se verificaram nas imediações do Estádio José Alvalade: “É triste quando imagens destas já não são notícia”.

No Brasil, o site Globoesporte noticia que “com multidão nos arredores do [estádio] José Alvalade, Sporting é campeão português depois de 19 anos” e quebra a “hegemonia de FC Porto e Benfica”, além de receber “cumprimentos do ídolo Cristiano Ronaldo”.

Ainda em tons ‘canarinhos’, o Lance intitula “Sporting bate o Boavista e vence o campeonato português pela primeira vez em quase vinte anos”, e o site da ESPN realça aquele que foi “um dos maiores feitos do futebol europeu na década”.

Entre os desportivos nacionais, o jornal A Bola destaca que “golo de Paulinho decide e Sporting é campeão nacional”, o Record apelida o jogo com o Boavista como “o momento de uma vida” e o OJOGO recorda a conquista do título nacional 19 anos depois, enquanto o site MaisFutebol exclama “enfim, campeão”.

Desacatos no Marquês ‘mancham’ festa

Desacatos na praça do Marquês de Pombal, em Lisboa, ‘mancharam’ as celebrações do título da I Liga conquistado pelo Sporting, com alguns adeptos a derrubarem grades e a arremessarem objetos contra a polícia.

Devido à pandemia de covid-19, o acesso à rotunda esteve vedado com grades ao longo das artérias circundantes à praça, com milhares de adeptos ‘leoninos’ atrás do gradeamento, à espera da passagem dos autocarros panorâmicos com os jogadores e staff sportinguista.

Um forte dispositivo policial tem procurado suster a euforia sportinguista, mas a Polícia de Segurança Pública (PSP) foi obrigada a intervir quando alguns adeptos derrubaram as grades, no início da avenida Fontes Pereira de Melo, que liga o Marquês de Pombal ao Saldanha.

Alguns adeptos chegaram mesmo a sofrer ferimentos, tendo recebido prontamente assistência dos bombeiros, enquanto a multidão colocada nessa zona fugia à intervenção policial ou arremessava garrafas de vidro e tochas para o outro lado do gradeamento, onde, para além da polícia e dos bombeiros, apenas está presente a comunicação social.

Desde o apito final em Alvalade, uma vasta multidão acorreu ao Marquês, que tinha a estátua iluminada de verde, em clima de enorme festa e com engenhos pirotécnicos em largo número, como fogo de artifício, tochas ou petardos, mas sem cumprirem qualquer tipo de distanciamento social e muitos até sem utilizar máscara.

Amorim: Época só podia terminar com sofrimento

A época do Sporting “só podia acabar com muito sofrimento e um golo do Paulinho”, disse o treinador do clube, Rúben Amorim, instantes após o Sporting conquistar o título.

Em declarações à Sport TV, na flash interview após o encontro, o técnico começou por agradecer “aos jogadores” e “principalmente ao staff, que passou maus bocados” no clube e teve esta terça-feira “a recompensa”, apesar de “mais duas horas de sofrimento”.

“Acho que é um reflexo da nossa época. Jogámos melhor, fomos melhores, não conseguimos marcar o segundo golo e sofremos até ao fim. Mas parabéns aos jogadores e obrigado”, comentou o treinador do Sporting.

Logo depois, Amorim voltou a admitir que é “um peso” que tira de cima, pelo valor que custou a sua contratação ao Sporting de Braga, e admitiu que queria muito ganhar “pelos jogadores, pelo clube e também por outras razões menos saudáveis”, sem especificar.

Sobre o futuro, o técnico confirmou que não vai “a lado nenhum” a menos que “paguem tudo” e voltou a deixar no ar a ideia de que o estado de graça depende sempre dos resultados.

“Daqui a um mês e meio começa tudo outra vez. E, se for preciso, um mês depois estamos aqui com o estádio cheio e se a bola não entrar estaremos a ver lenços brancos para o treinador, tenho noção disso. Mas, realmente, isto tirou-me um peso de cima e vou conseguir trabalhar ainda com mais força”, admitiu.

Sobre o facto de o golo da vitória na receção ao Boavista, no jogo em que o Sporting assegurou a conquista do título, ter sido apontado por Paulinho, a contratação mais cara de sempre do clube, o técnico lembrou que “toda a gente precisa de tempo”.

“O Paulinho marcou um golo mas falhou três ou quatro. Se não tivéssemos ganhado e ele falhasse tantos golos, estaríamos aqui a crucificar o Paulinho”, lembrou Amorim.

No entanto, antes, quando era o avançado do Sporting que falava na condição de ‘homem do jogo’, eleito pela Liga de clubes, Ruben Amorim interrompeu o seu jogador para instá-lo a dizer que “foste barato”.

“É difícil dizer isso. Eu gostei, entre aspas, de ser o mais caro, mas não foi uma decisão minha. A minha vontade foi estar cá, representar este grande clube e ser campeão”, retorquiu Paulinho após o técnico voltar a abandonar o local.

O avançado internacional português frisou, também, que conquistar o título “é mais difícil” quando se vem “de baixo”, aludindo ao seu percurso no futebol, e sublinhou que ainda o é mais “num clube que não ganha há 19 anos e passou recentemente por uma má fase”.

Sobre as críticas de que foi alvo no período em que esteve ‘desencontrado’ com a baliza, o avançado lembrou que já tem 28 anos e percebe “muita coisa” que se passa fora das quatro linhas.

“Não é um ataque ao Paulinho, é um ataque ao Sporting. Mas cheguei cá e encontrei um grupo muito focado, muito unido e tenho de lhes agradecer por tudo e sou campeão graças a eles”, agradeceu Paulinho.

[sc name=”assina” by=”Daniel Costa, ZAP” source=”Lusa” ]


Comentários

4 comentários a “Um treinador sem medo de errar e um plantel que pouco o fez. As razões para o título do Sporting”

  1. Avatar de E assim vai o país
    E assim vai o país

    Uma vergonha total os festejos de ontem. O ministro Cabrita tem de se demitir. É inaceitável tantos erros atrás de erros. Deveria ter prevenido. Uma vez mais, tal como já tinha feito no zmar, optou pela solução mais radical. Balas de borracha?!!!!

    1. esquece isso e descansa em paz

  2. Avatar de Otto Matik
    Otto Matik

    nesta altura do campeonato, já deveria ser possível haver público nos estádios de futebol. mas não qualquer um. neste momento já há mais de um milhão de pessoas vacinadas, estas pessoas deveriam ter acesso aos estádios (e outros locais de espectáculo).

  3. Avatar de de mal a pior
    de mal a pior

    Parabéns ao Sporting!

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