A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários anuncia que está a investigar quem são os actuais accionistas da Benfica SAD. E o órgão supervisor alerta que “há fortes indícios” de que José António dos Santos, conhecido como o “Rei dos Frangos”, detém mais de 20% da Sociedade.
Continuam as suspeitas em torno de Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica que suspendeu funções no clube, e do empresário e seu amigo José António dos Santos, dono do Grupo Valouro que detém a Avibom e de onde lhe vem a alcunha de “Rei dos Frangos”. As ligações pessoais dos dois homens, bem como as ligações entre os seus interesses e a vida empresarial do Benfica cruzam-se.
Após a detenção de ambos no âmbito da operação Cartão Vermelho, agora é a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) que anuncia que tem estado a fazer “averiguações” para divulgar “toda a informação relevante relativamente à governação e à estrutura accionista actual da Benfica SAD“.
Após ter suspendido as acções da Benfica SAD por algumas horas, a CMVM explica que tem estado a pedir esclarecimentos a Luís Filipe Vieira, José António dos Santos, John Textor, José Guilherme, Quinta de Jugais e ao Sport Lisboa e Benfica. Estes serão os accionistas actuais da Benfica SAD.
O Benfica clube terá 70% das acções e, durante o fim-de-semana, noticiou-se que o milionário norte-americano John Textor terá feito um contrato-promessa de compra e venda de cerca de 25 das acções da SAD com Vieira e com José António dos Santos.
Mas nem a própria CMVM sabe quem são os accionistas da Benfica SAD neste momento, como se pode depreender do comunicado da entidade.
“Rei dos Frangos” terá mais de 20% da SAD
“Das diligências efectuadas pela CMVM junto dos titulares de participações qualificadas conhecidas do mercado e de outros interessados, apurou-se a existência de contratos referentes à transmissão de acções cujas consequências em sede de imputação de direitos de voto não foram dadas a conhecer ao mercado“, realça a entidade.
Assim, há “dúvidas quanto à transparência das referidas participações qualificadas e, em particular, quanto à actual definição da estrutura accionista da Benfica SAD”, aponta ainda a CMVM.
Mas a entidade realça também que “há fortes indícios” de que José António dos Santos, “a quem eram imputáveis cerca de 16% do capital social da Benfica SAD”, já detenha mais de 20% da Benfica SAD, mencionando que “celebrou contratos promessa de compra e venda de acções”.
“Em paralelo, existem fortes indícios de que José António dos Santos celebrou um acordo de compra e venda com um terceiro, John Textor, tendo por objecto a alienação de uma participação de 25% que reuniria”, destaca ainda a CMVM.
O órgão supervisor acrescenta que não teve conhecimento de nenhum dos negócios, o que só por si constitui uma infracção grave das normas do mercado financeiro.
Textor assume “conversações” com “Rei dos Frangos”
Entretanto, John Textor fez um esclarecimento público sobre o seu envolvimento no caso, assegurando que não comprou acções da SAD, mas admitindo o interesse em adquirir e reconhecendo que teve “conversações” e que trocou “correspondência” com José António dos Santos de quem fala como “um adepto devotado do Benfica”.
O milionário americano refere que conheceu o empresário da Avibom através de uma “instituição bancária de investimentos baseada em Londres”, com quem diz “discutir regularmente oportunidades de investimento, sobretudo na indústria do desporto”.
Além disso, nota ainda que tinha previsto “reunir com a equipa de gestão do SL Benfica nas próximas semanas”.
Mas, agora, à luz dos últimos acontecimentos e das “espantosas mudanças nas circunstâncias”, Textor refere que está “a avaliar” se pretende “consumar a compra” de acções da Benfica SAD.
De qualquer modo, aponta que só queria ser “recebido como um parceiro positivo” por um clube que considera ser “o gigante adormecido do futebol mundial, o maior desenvolvedor de talentos nas suas academias, com uma oportunidade sem igual de estender a sua missão e a sua marca para um rápido crescimento global de audiências”.
“Sinto-me atraído pelo Sport Lisboa e Benfica porque é, verdadeiramente, o clube do povo… e será sempre o clube do povo“, reforça ainda Textor.
Juiz Carlos Alexandre queria Vieira preso
Na esfera judicial, Luís Filipe Vieira passou, no sábado passado, a prisão domiciliária sem pulseira electrónica, tendo que pagar uma caução de 3 milhões de euros nos próximos 20 dias.
Mas o juiz Carlos Alexandre, responsável pelo processo, queria decretar a prisão preventiva de Vieira porque considera que há elevado perigo de fuga, conforme apurou a TVI.
Carlos Alexandre já tinha tido um entendimento semelhante no caso de Joe Berardo que foi libertado sob uma caução de 5 milhões de euros, a maior da história da justiça portuguesa.
Quanto a Vieira, Carlos Alexandre terá optado pela prisão domiciliária para preservar o segredo de justiça em torno da investigação.
É que, em caso de prisão preventiva, os prazos ficam mais apertados e os arguidos poderiam ter acesso aos detalhes da investigação mais cedo.
Neste caso, com a prisão domiciliária, os arguidos não podem consultar o processo até 18 de Novembro, o que dá aos investigadores do MP mais tempo para reunirem provas.
Até agora, o MP terá recolhido, sobretudo, prova indirecta como, por exemplo, o “pagamento de comissões a Bruno Macedo [empresário de futebol também suspeito no processo]” e “os investimentos de Bruno Macedo nos negócios de Vieira”, segundo destaca o Correio da Manhã.
Vieira pode falar com Jesus, mas não com Rui Costa
Vieira suspendeu funções como presidente do Benfica e não pode contactar com nenhum membro da actual administração da SAD, eleita na sua lista de candidatura. Mas pode falar com o treinador Jorge Jesus e com outros elementos da estrutura do futebol e da direcção do Benfica clube.
Contudo, não pode contactar com Rui Costa, que assumiu as funções de presidente da SAD e que também exerce funções no clube.
Agora, tem 20 dias para prestar a caução de três milhões de euros.
Depois disso, ficará em liberdade e até poderá voltar a assumir o cargo de presidente do Benfica. Mas, se o fizer, arriscará a prisão preventiva, pois isso pode ser considerada uma violação das circunstâncias que determinaram a medida de coacção da prisão domiciliária.
[sc name=”assina” by=”Susana Valente, ZAP”]
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