As escutas telefónicas da operação Cartão Vermelho têm revelado vários dados sobre os negócios do Benfica. Desta feita, há suspeitas em torno das transferências acordadas entre o Benfica e o Manchester City por Rúben Dias e Otamendi.
A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) já pediu “esclarecimentos à Benfica, SAD”, como refere uma fonte da entidade ao jornal O Jogo, depois de o Correio da Manhã (CM) ter divulgado escutas que indiciam que as duas transferências podem ter sido, afinal, um negócio único, com um “arranjo entre os clubes”.
Há suspeitas de que o “Benfica enganou o mercado”, como aponta o CM, comunicando à CMVM valores que não correspondem aos montantes reais praticados.
O Benfica notificou a CMVM da venda de Rúben Dias por 68 milhões de euros num negócio que previa, ainda, mais 3,6 milhões por objectivos cumpridos. Portanto, o “bolo” total ficou-se pelos 71,6 milhões de euros.
No caso de Otamendi, a compra foi comunicada à CMVM por 15 milhões de euros.
Assim, a SAD encarnada deu aos investidores a ideia de que foram dois negócios independentes. Contudo, as duas transferências terão sido consumadas num único acordo, conforme se suspeita no âmbito da operação Cartão Vermelho.
Na realidade, o passe de Rúben Dias terá sido vendido por 50 milhões de euros, descontando o Benfica, do montante declarado, uma compensação de 6,6 milhões de euros a Otamendi pela redução substancial do seu ordenado na saída do City para a Luz.
O ganho líquido dos encarnados por Rúben Dias terá sido de apenas 44 milhões, descontando comissões.
Enquanto isso, o City terá pedido ao Benfica para valorizar Otamendi em 15 milhões de euros, pois a venda seria uma ajuda com o fair play financeiro da UEFA.
“Manipulação dos preços” para beneficiar o Benfica
“Fica notório pelas presentes intercepções que a valorização de Otamendi, e consequente aumento do valor do passe de Rúben Dias, é um ‘arranjo’ entre os dois clubes“, aponta o inspector tributário Paulo Silva, que investiga as questões fiscais do processo Cartão Vermelho, nos documentos da investigação a que o CM teve acesso.
O alegado “arranjo” com o City permitiu ao Benfica baixar os prejuízos nas contas do final da época passada. Sem essa alegada combinação com o clube inglês, “o saldo negativo das contas encarnadas aumentaria em 21,6 milhões/euros, para os 39 milhões”, de acordo com a análise do inspector tributário que é citada pelo CM.
O procurador do Ministério Público responsável pelo processo, Rosário Teixeira, não duvida de que houve uma “manipulação dos preços constantes dos contratos de forma a corresponder aos interesses do Benfica”, segundo transcreve o CM.
O negócio de Otamendi inclui ainda uma comissão de 1 milhão de euros, um valor que foi “transferido para Eugénio”, conforme referem dirigentes do Benfica nas escutas, sem revelar de quem se trata.
Jesus fez exigências para voltar à Luz
As escutas divulgadas pelo CM e pela CMTV também dão conta de alegadas exigências impostas por Jorge Jesus para regressar ao Benfica.
Há uma conversa telefónica entre Domingos Soares de Oliveira e Miguel Moreira, administradores da SAD, a lamentar que o advogado do treinador recusou praticamente todos os pontos do contrato inicial que lhe foi apresentado pelo Benfica.
Jesus terá, por exemplo, recusado assinar um contrato com uma cláusula de confidencialidade, à mesma medida da que tinha feito com o Sporting.
Além disso, Jesus terá exigido ao Benfica que pagasse todos os impostos devidos no Brasil, no âmbito dos salários pagos pelo Flamengo.
Por outro lado, o técnico terá recusado um contrato de dois anos com mais dois de opção, como lhe terá proposto Luís Filipe Vieira. Jesus aceitou um contrato de dois anos, mas a sua vontade era assinar por apenas, conforme refere o próprio nas escutas divulgadas pelo CM.
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