A jornalista Rita Latas enfrenta um processo disciplinar após ter feito uma pergunta sobre algo não relacionado com o jogo a Rúben Amorim durante a flash interview.
Na flash interview após o jogo entre Sporting CP e GD Chaves, a jornalista da SportTV, Rita Latas, questionou Rúben Amorim acerca dos comentários do ex-sportinguista Islam Slimani.
“Que comentários lhe merecem o que Slimani disse que, ao que tudo indica, Rúben Amorim não queria que Slimani jogasse porque preferia que Paulinho estivesse no 11 inicial?”, perguntou a jornalista Rita Latas.
Nas redes sociais, o argelino sugere que foi pouco utilizado no Sporting por Amorim preferir jogar com Paulinho. “Aconteceu que ele não gostou que eu jogasse bem e fosse forçado a tirar o jogador dele [Paulinho]. Então encontrou desculpas, mas todas essas verdades aparecerão em breve”, escreveu o atleta do Brest.
“Estou certo que me vão perguntar sobre isso na conferência de imprensa, aqui falo um bocadinho do jogo. Não leve a mal. Na conferência responderei com todo o gosto a essa questão. Obrigado”, respondeu o treinador ‘leonino’.
Agora, a jornalista está a braços com um processo disciplinar, que muitos consideram “absurdo” e “inconstitucional”.
O processo disciplinar foi instaurado porque o regulamento da Liga de Clubes não permite fazer perguntas alheias às incidências do jogo. “[A flash interview] tem a duração máxima de 90 segundos para cada interveniente, versando exclusivamente sobre as ocorrências do jogo”, lê-se no artigo 91.º do Regulamento de Competições.
A FPF explicou que o processo surge “por lhe ter sido presente Relatório Oficial de Jogo no qual se fazia referência ao facto de jornalista ter feito, durante a flash interview, pergunta não relacionada com o jogo que acabara de terminar”.
Pouco depois de conhecida a decisão do Conselho de Disciplina, o CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto, reagiu à situação.
“Os jornalistas não podem ser escrutinados por nenhum Conselho de nenhuma Federação ou Liga, nem por nenhum clube. Nunca. Jamais”, escreveu o CNID em comunicado.
“A jornalista colocou apenas uma questão pertinente como é seu dever. Abrir um processo por isto é absurdo, para não lhe chamar outra coisa”, lê-se ainda na nota divulgada.
O CNID manifestou ainda o seu apoio à jornalista e garantiu que “irá até às instâncias internacionais se for caso disso”.
“Parece-me inconstitucional”
Em declarações ao jornal Público, Jerry Silva, jurista especialista em direito desportivo, diz que a instauração de um processo disciplinar esbarra no “conceito de liberdade de imprensa e direito de informação”.
“Sim, pode atentar contra a liberdade de imprensa e direito de informação. E propendo para que seja inconstitucional”, argumenta o especialista.
“Um regulamento de uma competição, seja ele qual for, está sujeito ao ordenamento jurídico no seu todo e não pode, de forma direta ou indireta, contender – como sucede com muitas normas regulamentares – com as disposições constitucionais e, neste caso, também com a lei de imprensa em vigor. Parece-me inconstitucional, afetando direitos, liberdades e garantias fundamentais”, acrescentou.
O Sindicato dos Jornalistas (SJ) também se pronunciou sobre o caso, falando num atentado à liberdade de imprensa.
“O SJ considera grave, ilegal e um atentado à liberdade de imprensa a decisão do Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) em instaurar um processo disciplinar a uma jornalista da SportTV por esta ter feito uma pergunta a Rúben Amorim na zona de entrevistas rápidas fora do contexto do jogo que acabara de terminar, o Sporting x Desportivo de Chaves, uma situação que não se enquadrava no regulamento das competições organizadas pela Liga Portugal”, escreve o organismo, em comunicado.
Governo: Inquérito “põe em causa” Constituição
O Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, apelou ao Conselho de Disciplina da FPF para que “reconsidere” a decisão de instaurar um processo disciplinar à jornalista da SportTV.
“Acompanho com muita preocupação uma decisão que limita a liberdade de imprensa e que põe em causa princípios basilares da nossa Constituição”, disse Adão e Silva num comunicado enviado às redações. “Os jornalistas são por definição livres de fazerem as perguntas que entendem”.
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