Falta de água ou falhas no AC. Nas vésperas do Mundial, o Qatar tem muitos problemas por resolver

Estádio Al Thumama, Qatar

Desde preocupações sobre o alojamento à falta de infraestruturas perto dos estádios, a organização do Mundial de 2022 tem ainda várias falhas por resolver a menos de dois meses do início do torneio.

Já desde o anúncio em 2010 de que a FIFA tinha escolhido o Qatar (o primeiro país do Médio Oriente e o mais pequeno até agora) para acolher o Campeonato do Mundo de 2022 que as críticas não têm parado.

Desde preocupações com o impacto que o calor terá na saúde e performance dos atletas, que obrigou a que o evento se realizasse pela primeira vez no Inverno, até acusações de sportswashingquando uma entidade ou país usa o desporto para lavar a sua imagem.

Com o arranque das obras para a construção dos estádios, surgiram muitas outras polémicas, com relatos de trabalhos forçados e imigrantes que estavam a ser explorados em condições desumanas.

Foi noticiado que pelo menos 6500 trabalhadores estrangeiros já morreram nas obras para a preparação do Mundial, com muitos a padecer de esgotamentos ou golpes de calor e a Amnistia Internacional tem denunciado vários vezes que há violações de direitos humanos.

Falhas no AC nos estádios

Oito estádios, cinco auto-estradas e um sistema de metro que custou 36 mil milhões de dólares depois, há ainda várias arestas por limar antes do apito inicial do primeiro jogo entre o Qatar e o Equador, marcado para 20 de Novembro.

Com a inauguração do Lusail Iconic a 9 de Setembro, todos os sete novos estádios construídos para o evento estão oficialmente de portas abertas, mas há ainda poucas infraestruturas que os adeptos podem usar ao seu redor.

Alguns dos estádios estão no meio de enormes zonas de deserto ou estão rodeados de obras em construção ou parques de estacionamento, sem restaurantes, cafés, hotéis ou lojas nas imediações, relata a ESPN.

Todos os estádios, com a excepção de um, terão ar condicionado para os jogadores e espectadores. No caso dos jogadores, o ar sairá de enormes respiradouros controlados por sensores na relva que medem a temperatura e a humidade e ajustam o ar condicionado de acordo com as necessidades.

Mas o jogo realizado a 9 de Setembro já serviu de aviso de que nem tudo está a ir de vento em poupa. Foram detectadas várias falhas logísticas, com as bancadas a ficarem sem água logo ao intervalo e sem forma de se conseguir mais devido à falta de infraestruturas perto do estádio.

Os termómetros marcavam 34 graus, mas a sensação de calor era bastante maior devido à humidade e o ar condicionado não foi suficiente para colmatar as altas temperaturas. Antes do jogo, também houve problemas com os atrasos na entrada no estádio, com os adeptos a ter de esperar enquanto estavam expostos ao calor.

Houve também filas de 2,5 quilómetros metros à saída, com as autoridades a obrigar os adeptos a esperar para irem para o metro num lote vazio para evitarem uma debandanda. A estação fica a apenas 400 metros do estádio.

Alguns seguranças e membros de equipas médicas também relataram dificuldades em conseguir chegar ao estádio. A organização garante que este jogo serviu precisamente para testar as infraestruturas e que todos os problemas detectados serão resolvidos até 20 de Novembro.

Por enquanto, uma coisa que parece estar a funcionar é a linha de metro, que garante que nenhuma viagem entre qualquer um dos estádios vai demorar mais do que uma hora. Um passe diário custa menos de dois euros e todas as viagens serão gratuitas durante o Mundial para os adeptos que têm bilhetes.

Desafios na acomodação

A acomodação de todos os turistas também será uma preocupação, já que há hotéis e blocos de apartamentos que claramente não estarão prontos a tempo. O Comité Supremo do Qatar espera receber 1,3 milhões de visitantes, um valor que equivale a cerca de metade de toda a população do país — e não há espaço suficiente para todos estes adeptos.

O Qatar chegou a um acordo este ano com os vizinhos dos Emirados Árabes Unidos para a realização de 160 voos diários de 40 minutos entre os dois países para que os turistas possam ficar nos EAU e deslocar-se até ao Qatar apenas para assistir aos jogos. Em circunstâncias normais, há apenas seis voos deste género por dia.

No próprio Qatar, as opções variam entre hotéis-cápsula que custam 80 euros por noite ou uma estadia na Ilha Banana, onde o valor já dispara para 2800 euros e que já está bastante ocupado com as famílias dos jogadores da França e da Inglaterra. Também haverá parques de campismo com tendas a partir dos 190 euros por noite, mas as condições são pouco atrativas por serem no meio do deserto.

O Comité Supremo do Qatar impôs um embargo à maioria das reservas, que só estarão disponíveis mais perto do evento, já que o país só quer deixar entrar turistas que já tenham bilhete para os jogos e estadia marcada.

Qatar ignora os “cépticos”

Em resposta à preocupação gerada por estes atrasos, o Governo do Qatar chuta para canto. “O Qatar já passou da fase de responder aos cépticos sobre a sua capacidade de organizar o Mundial”, disse o secretário-geral do comité organizador, Hassan al-Thawadi, segundo a agência oficial de notícias do país.

“Desde o primeiro dia, tínhamos a certeza de que as acções em campo provariam a todos a capacidade do Qatar de organizar um grande torneio“, acrescenta, enfatizando que “todos são bem-vindos”.

Hassan al-Thawadi também respondeu às acusações de violações dos direitos dos trabalhadores, lembrando as reformas laborais feitas no ano passado, incluindo a criação de um salário mínimo destinado a melhorar as condições dos imigrantes, oriundos principalmente do sul da Ásia.

[sc name=”assina” by=”Adriana Peixoto, ZAP” ][/sc]


Comentários

Um comentário a “Falta de água ou falhas no AC. Nas vésperas do Mundial, o Qatar tem muitos problemas por resolver”

  1. E que tal os média denunciarem a sério, o problema do não cumprimento dos direitos humanos, especialmente para os trabalhadores estrangeiros que foram objeto de abuso e maus tratos durante toda a fase de construção dos estáduos e putras obras de infraestruturas, dos maus tratos e desigualdade intolerável com as mulheres e com outras minorias que não cabem no exíguo intelecto dos governantes e dos poderosos daquele país.

    Aí sim, seria serviço público e admirável. E faziam a diferença e estariam do lado das soluções e não dos que as protelam ou faxem viata grossa dos problemas que não deveriam poder ser ignorados e/ou tolerados.

    Dar apoio ao acontecimento deste mundial, nos termos em que tem vindo a ser feito na maior parte dos mídia, e diga-se, internacionalmente falando (e de praticamente todos os países), e da maior parte de outros quadrantes que têm funções, acesso e responsabilidades que permitem denunciar e não o fazem (como os governos dos países, federações de desportos e de futebol em particular, entre muitos outros), só mostra que a humanidade na sua mentalidade ainda tem um longo caminho a percorrer.

    Face ao que lá se passa e se passou, é uma vegonha completa, que a FIFA não tenha primeiro, condicionado à aprovação o aplicar de mudanças e cumprir com direitos humanos, depois ter fiscalizado e instado a que essas mudanças se estivessem a operar, e por terem sido cumpridas, simplesmente tivesse cancelado o evento nesse país de mentalidade de à séculos.

    Sinto-me enojado com essas atitudes de pessoas que ocupam altos cargos e usam-nos de forma indevida e de forma quantas vezes grátis, sejam cobardes ao não aplicarem o que dizem defender e que até está nos regulamentos dos organismos que tutelam e nas próprias leis dos países de onde proveêm ou das próprias organizações que tutelam. E depois, também todos os que polulam à volta, que mostram a mesma fraqueza e falta de carácter de honestidade intelectual e falta de solidariedade para como os que sofrem, apenas para eles terem alguns momentos de prazer (e neste caso, um reles mundial de futebol).

    Seja quem for o vencedor, pelo que está na base da sua preparação e construção e das vitimas que apesar das denúncias continuaram quase invisíveis e como se isso não estivesse a acontecer, e em pleno século 21, para mim, será um reles mundial.

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