Um grupo de figuras proeminentes do desporto iraniano pede à FIFA que proíba a Federação Iraniana de Futebol de participar no Campeonato do Mundo, no Qatar.
O pedido foi feito através de um escritório de advogados numa carte enviada à FIFA em nome de antigas e atuais figuras do desporto iraniano, escreve a CNN.
“A brutalidade e a beligerância do Irão em relação ao seu próprio povo chegaram a um ponto de inflexão, exigindo uma dissociação inequívoca e firme do mundo do futebol e do desporto”, lê-se num comunicado de imprensa divulgado.
A morte de Mahsa Amini, a jovem que faleceu após ter sido presa pela “polícia de moralidade” por uso incorreto do véu islâmico, despoletou uma onda de revolta no país. Centenas de manifestantes terão morrido, com mulheres a queimar os hijabs e a cortar o cabelo em protesto.
O desporto quer agora ser uma das frentes de contestação. O grupo de desportistas iranianos denuncia a inação da FIFA no passado e pede medidas concretas.
“A abstinência histórica da FIFA de atoleiros políticos muitas vezes só foi tolerada quando essas situações não se metastatizam na esfera do futebol. O futebol, que deveria ser um lugar seguro para todos, não é um espaço seguro para mulheres ou mesmo homens”, lê-se ainda no comunicado.
A carta enviada é assinada, entre outros, por Mohammad Reza Faghani, árbitro licenciado pela FIFA, Vahid Sarlak, campeão asiático de judo e membro da seleção iraniana, e Shiva Amini, antiga internacional iraniana de futsal feminino.
“As mulheres têm sido constantemente negadas de acesso aos estádios em todo o país e sistematicamente excluídas do ecossistema do futebol no Irão, o que contrasta fortemente com os valores e estatutos da FIFA”, denuncia a carta.
Em agosto deste ano, mais de 40 anos depois, as mulheres iranianas puderam temporariamente voltar a ver futebol nacional nos estádios locais.
Cerca de 30% dos 28 mil bilhetes para o jogo entre Esteghlal, treinado pelo português Ricardo Sá Pinto, e Mes Kerman, foram disponibilizados para o público feminino, num teste a esta abertura. Se a avaliação for positiva, a medida será alargada, posteriormente, a todo o país.
Em 2019, e face à pressão da FIFA, já foi autorizado público feminino nos jogos internacionais da seleção, o que aconteceu pela primeira vez desde a Revolução Islâmica de 1979.
Em causa o então apuramento para o Mundial 2022 do Qatar em que cerca de quatro mil mulheres puderam assistir ao desafio com o Cambodja, numa zona isolada do resto do público, entre o corpo de polícia e pessoal médico.
Essa permissão sucedeu depois de um caso mediático internacionalmente, quando Sahar Khodayar, de 29 anos, morreu depois de se ter imolado à porta de um tribunal em Teerão, revoltada pelo facto de poder ir para a prisão por ter tentado entrar num estádio de futebol disfarçada de homem.
[sc name=”assina” by=”Daniel Costa, ZAP” ][/sc]
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