A Argentina venceu a França nos penáltis neste domingo, na final do Mundial 2022, tornando-se tricampeã e entrando para o clube restrito de seleções com três estrelas na camisola.
Os argentinos receberam o troféu, que é parte fundamental das comemorações pela vitória no Mundial, num enredo que se repete a cada quatro anos.
Para deixar a vitória registada na taça oficial do campeonato, após a comemoração, o objeto é encaminhado para a pacata cidade de Paderno Dugnano, na região metropolitana de Milão, no norte da Itália.
Ali, num armazém simples, localizado numa tranquila rua de uma região industrial, os ourives que trabalham na fábrica da empresa GDE Bertoni estão prontos para receber a famosa taça.
Os funcionários precisam de deixar o troféu a brilhar como se fosse novo e gravar, no disco circular que fica em sua base, o nome da seleção da Argentina.
O padrão é: o ano do campeonato, seguido pelo nome do vencedor, numa grafia que respeite o idioma do campeão.
Assim, em 1994 e 2002, foi escrito Brasil com s, exatamente da maneira como escrevemos em português.
Em 2006, a taça foi recebida num clima de festa para a gravação, já que foi num ano em que a Itália conquistou o mundial.
Esta gravação é o único processo mecanizado pelo qual passa o troféu, com os seus cerca de 6 quilos de ouro. A taça, obra idealizada em 1971 pelo ourives e escultor , que morreu aos 95 anos em 2016, é confeccionada de forma totalmente artesanal.
A taça
Os países que vencem o Mundial recebem uma réplica da taça da disputa.
É um objeto idêntico à taça original, que tem 18 quilates de ouro e está sempre na posse da FIFA. A GDE Bertoni é responsável por produzir estas réplicas, idênticas em forma e com peso semelhante à original, que são entregues, em definitivo, às seleções campeãs. Em vez de ouro puro, a réplica é feita com uma liga de cobre e zinco, que é depois banhada a ouro com três demãos.
E são réplicas assim que todos os países que venceram Mundial desde 1974 guardam nas suas salas de troféus.
Em 1970, o Brasil chegou a receber uma taça original, o troféu Jules Rimet – pois o combinado era que a primeira seleção que vencesse três vezes o Mundial ficaria com a posse definitiva da taça.
Após o tricampeonato brasileiro, foi aberto um concurso para escolher a premiação substituta. Participaram 53 empresas de todo o mundo.
A GDE Bertoni, empresa fundada em Milão pelo ourives Emilio Bertoni, já tinha uma certa experiência no ramo desportivo, pois tinha feito as medalhas para os Jogos Olímpicos de Roma, em 1960.
A firma era então gerida por Giorgio Losa, neto do fundador. O funcionário Gazzaniga fez o desenho. Losa levou pessoalmente um molde de gesso até a sede da FIFA para o certame. Levou a melhor e voltou com a missão: fabricar a taça que já seria utilizada no Mundial de 1974.
Desde então, a cada quatro anos a taça original e única da Copa retorna a Paderno Dugnano para a gravação do nome. Aquelas duas faixinhas verdes, feitas de uma pedra chamada malaquita, são substituídas por novas. O troféu também é limpo e polido. Fica novinho em folha antes de voltar à sede da FIFA, em Zurique, na Suíça.
Todo este processo costuma levar pelo menos duas semanas. É feito em sigilo, sem alarde, por razões de segurança – e para não quebrar o sossego da silenciosa e quase sem movimento ruazinha onde a GDE Bertoni se localiza.
Assim que a taça original for encaminhada para a gravação, a Argentina receberá a posse da réplica oficial a que tem direito. E a original seguirá da Itália para Zurique, na Suíça, na espera para o Mundial de 2026.
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