Reunião entre o ex-presidente da Assembleia-Geral da Liga de Clubes e a tutela do desporto foi confirmada pelo gabinete da ministra-adjunta e dos Assuntos Parlamentares, que foi pressionada por Mário Costa a acelerar vistos de atletas.
Constituído como arguido pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e pelo Ministério Público (MP) e indiciado pelos crimes de tráfico de pessoas, auxílio à emigração ilegal e falsificação de documentos, Mário Costa terá, cinco meses antes, reunido no gabinete da ministra-adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, com a tutela do desporto.
Na reunião formal de 23 de janeiro, confirmada ao Expresso pelo gabinete da ministra-adjunta, o ex-dirigente da Liga — que se afastou do cargo esta quarta-feira devido à polémica — quis dar conta das dificuldades administrativas na concessão de vistos de alguns atletas tentando, para tal, pressionar a ministra para acelerar o processo.
O gabinete adiantou, no entanto, que “não agilizou qualquer processamento de emissão de vistos de atletas estrangeiros”, sublinhando que o gabinete do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, “não recebeu qualquer contacto, nem o tema foi objeto das reuniões do secretário de Estado com os órgãos da Liga Portugal”.
Mário Costa e o seu pai procuravam celebrar contratos fictícios com equipas de escalões inferiores quando os atletas não conseguiam ser contratados por equipas das competições nacionais, de modo a permitir-lhes obter o visto de residência em Portugal.
O Expresso alerta que os vídeos que a Bsports Academy publicava até há pouco tempo no Instagram apresentavam, habitualmente, um selo do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social no final.
Nos mesmos vídeos, surge também um certificado de entidade formadora da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho.
O Ministério foi questionado pelo jornal sobre eventuais parcerias ou apoios financeiros prestados à academia de Mário Costa — não obteve qualquer resposta.
Academia ou prisão?
Os jogadores menores seriam recrutados pelos dois suspeitos na América do Sul, África e Ásia, segundo a TSF, através de torneios de captação aí realizados pela academia.
De acordo com a RTP, os atletas vinham para Portugal com uma promessa de contrato dos arguidos, válidos por 11 meses, e seriam impedidos de sair caso os pais quisessem interromper a sua formação ou não tivessem coberto o pagamento previsto.
Na sequência das buscas do SEF à academia Bsports, já foram resgatados mais de uma centena de jovens da academia, que fica em Riba D’Ave, concelho de Famalicão, distrito de Braga.
36 são estrangeiros que ficaram à responsabilidade da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) para serem entregues nos próximos dias às famílias.
O SEF e o Ministério Público (MP) terão, segundo o JN, relatos de alguns dos atletas menores estrangeiros, que estariam a viver amontoados em camaratas e terão sido sujeitos a várias medidas disciplinares na academia do dirigente da Liga Portugal.
Só saíam acompanhados de funcionários da academia e o seu acesso ao exterior era limitado. A sua documentação, incluindo o passaporte, também foi retida.
Segundo a RTP, alguns jovens terão mesmo ameaçado que se iriam suicidar e outros conseguiram fugir daquele “pesadelo”.
Segundo o Expresso, há pelo menos cinco emblemas das divisões regionais de Braga e de Bragança que foram cúmplices “deste esquema montado por Mário Costa”, segundo fontes judiciais contactadas pelo jornal.
Apesar de garantir que será provado que não cometeu “nenhum ilícito criminal”, Mário Costa demitiu-se, esta quarta-feira, deixando de ser presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Liga Portugal.
O economista Miguel Frasquilho, embaixador da Bsports Academy, referiu em comunicado que nunca teve “conhecimento de quaisquer práticas potencialmente menos lícitas” da academia.
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