Regresso aos pelados? UE deu um prazo aos relvados sintéticos

Campo de Jogos Luís Pernica, em Mora (Évora)

O fim dos relvados sintéticos pode estar iminente. A União Europeia está a dar um prazo de oito anos, para o fim deste tipo de superfícies. Em jogo, estão milhares de milhões de euros e a saúde de milhões de pessoas.

A Comissão Europeia (CE) está a declarar guerra aos microplásticos e, no desporto, parece haver uma grande batalha pela frente.

Uma das maiores fontes de emissão de microplásticos são, atualmente, os campos de relva artificial.

A simulação verde da erva é feita de polietileno (fibra) e assenta numa base de poliuretano ou látex. Por baixo, além de uma grande quantidade de areia, escondem-se as famosas “borrachinhas pretas”, provenientes de pneus reciclados, que oferece grande amortecimento.

Este enchimento de borracha, também é utilizado noutros elementos urbanos, como parques infantis, está no centro das atenções como grande emissor de partículas nocivas para o ambiente.

De acordo com o El Confidencial, a CE está agora a dar um prazo de oito anos para acabar com os relvados artificiais.

Apesar de no desporto profissional predomine a relva natural, as superfícies artificiais suportam diariamente milhares de treinos e jogos de futebol, râguebi, hóquei ou padel, entre outros desportos – juvenis e não só.

Com custos de manutenção quase nulos, após a sua construção, é hoje impensável um clube – sendo mais ou menos modesto – viver sem elas.

Um problema muito sério

Do ponto de vista ambiental e da saúde humana, a decisão da CE parece reunir consenso. Um estudo publicado em 2022 na revista Environment International detetou microplásticos no sangue de 80% das pessoas analisadas.

A Universidade de Santiago de Compostela (Espanha) também tem vindo a analisar a questão, tendo já produzido vários artigos científicos que mostram o seu impacto ambiental: a borracha reciclada está a contaminar o ar e a água com partículas que são absorvidas por peixes e outros animais, entrando na cadeia alimentar humana.

Segundo estimativas, entre as diferentes partículas de plástico (incluindo as micro e as mais pequenas, nanopartículas), na União Europeia, os campos de relva artificial libertam para o ambiente cerca de 42.400 toneladas de plástico, por ano.

Regresso ao pelados é solução?

Ainda não há decisões tomadas, mas o relógio não pára e, mal a proibição entre em vigor, haverá um prazo de apenas oito anos para se fazer a revolução.

A manutenção da relva natural é muito dispendiosa e, em Portugal, são raros as instituições desportivas e os municípios que conseguem suportá-la.

Com este cenário, o regresso à terra batida pode ser, até ver, uma boa alternativa.

De acordo com o El Confidencial, seriam precisos cerca de 30.000 euros para limpar as borrachas de enchimento de cada campo antigo.

A guerra dos microplásticos está longe de acabar.

No campo de batalha, em Espanha, por exemplo, estão já várias ações judiciais contra a Comissão Europeia, por parte de grupos empresariais que questionam a metodologia do regulamento que proibirá tais superfícies desportivas.

Na CE, começam a ouvir-se vozes que alegam que os microplásticos são o amianto do século XXI. Espera-se um longo e duro debate entre especialistas e indústrias.

Em jogo, estão milhares de milhões de euros e a saúde de milhões de pessoas.

[sc name=”assina” by=”Miguel Esteves, ZAP” url=”” source=”” ]


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