O regresso de um ídolo para treinar nem sempre é boa ideia (cuidado, Amorim)

Xavi Heernández, lenda do FC Barcelona

Orientar a bola é muito diferente do que orientar jogadores da bola. Xavi, Pirlo, Lampard, Gattuso, Solskjær e Henry são antigos craques que mostraram que treinar os clubes onde são ídolos nem sempre é boa ideia.

Resultou com Pep Guardiola no Barcelona, com Zinedine Zidane no Real Madrid, com Carlo Ancelotti no AC Milan, e até com Sérgio Conceição no FC Porto.

Porém, o sucesso de um treinador num clube onde se tornou ídolo a jogar não é regra geral.

O caso mais recente de “insucesso” (ou, talvez, apenas “infelicidade”) é o de Xavi Hernández, que anunciou a saída do “seu” Barcelona, no final desta época.

Em 2021, o antigo médio espanhol regressou ao clube do coração, para treinar. Na altura, a intenção era salvar o barco deixado à deriva pelo holandês Ronald Koeman.

Xavi nasceu e cresceu para o futebol no Barça: foram 25 anos ligado ao clube, onde fez 17 épocas enquanto profissional; foi capitão e ergueu quatro vezes a Liga dos Campeões.

Enquanto treinador, Xavi não conseguiu ainda espelhar nas suas equipas a “classe”, a “fineza” e a “simplicidade” que o caracterizavam enquanto jogador.

Ainda assim, o antigo centro-campista conseguiu levar, no ano passado, o Barcelona à conquista da liga espanhola, que escapava aos catalães desde 2019.

Este ano, a coisa está a correr menos bem.

Apesar de na fase de grupos da Liga dos Campeões ter alcançado o primeiro lugar (à frente do FC Porto), o Barcelona ocupa o terceiro posto da liga, nove pontos atrás de Real Madrid e a dez do líder Girona.

Na Taça do Rei, a formação Blaugrana foi eliminada nos quartos-de-final pelo Athletic de Bilbao. A Supertaça também já lhe havia escapado, no início do mês, para o Real Madrid.

No último fim-de-semana, após mais um desaire – frente ao Villarreal (3-5) – Xavi anunciou a saída do clube, no final da época, sublinhando que não quer ser um problema para o clube que ama.

“É uma situação que exige bom senso e, como tal, decidi que no dia 30 de junho não continuarei como treinador do Barça (…) Como Culé, acho que o clube precisa de uma mudança de dinâmica (…) Não quero ser um estorvo para o clube. Quero ser sempre uma solução e nunca quero ser um problema“, considerou.

“Fui uma solução há dois anos e três meses, mas, agora, pensando com o coração e pensando no clube, para o qual quero o melhor, está na altura de abandonar. Agradeço ao presidente pela confiança”, finalizou Xavi.

Esta terça-feira, na antevisão do jogo de amanhã – frente ao Osasuna – o técnico de 44 anos voltou a abordar a saída e admitiu que “é cruel treinar o Barcelona”: “Fazem com que te sintas inútil (…) Falei disso com o Pep [Guardiola], com o Ernesto [Valverde], vi sofrer o Luis Enrique, mas não sabia. Agora vivi-o…“, lamentou.

De facto, é cruel treinar o Barcelona…

Tal como é cruel treinar o Benfica, o Porto, o Sporting, a Juventus, o Manchester United, o Chelsea, o AC Milan, o Mónaco…

Tal como Xavi, outros ídolos de clubes europeus com grande “responsabilidade” não têm tido regressos felizes quando chamados a treinar.

Andrea Pirlo é um desses casos. O atual técnico da Sampdoria começou o percurso de treinador na Juventus – onde, em tempos, brilhou com a camisola 21.

Só que a magia e inteligência que o antigo médio italiano impunha em cada jogada – mais uma vez – não foi replicada na equipa, que treinou durante uma temporada, em 2020/21. Ainda assim, Pirlo venceu com a Juve a Taça e a Supertaça de Itália.

Ole Gunnar Solskjær jogou 11 épocas no Manchester United, anotou mais de 120 golos, e foi elevado a ídolo, na final da Liga dos Campeões 1999, depois de marcar o golo da vitória já no período de descontos, frente ao Bayern de Munique, numa das reviravoltas mais épicas da história da competição.

Solskjær foi, novamente, chamado a servir os Red Devils em 2018, para suceder José Mourinho, no cargo de treinador. O antigo avançado norueguês permaneceu no clube durante quase três anos, esteve no regresso de Cristiano Ronaldo, mas não venceu qualquer título.

Em Inglaterra há ainda o caso recente de Frank Lampard.

Aquele que foi o capitão do Chelsea na primeira conquista da Liga dos Campeões, em 2013, também tem no seu palmarés a glória de 2021 – já que, no início daquela época, o treinador dos Blues era precisamente Lampard, que acabou, mais tarde, por ser substituído pelo alemão Thomas Tuchel.

Com quase 650 jogos pelo clube, Lampard é uma das maiores lendas do Chelsea. Em Stamford Bridge, o respeito pelo antigo internacional inglês é máximo e Lampard já foi duas vezes chamado a orientar os Blues – só que nunca correu como o esperado: em 95 jogos, apenas 45 vitórias…

De resto, a Bleacher Report Football destacou, esta segunda-feira, numa publicação nas redes sociais, os exemplos de Gennaro Gattuso – que também não vingou no AC Milan – e ainda de Thierry Henry – que não foi feliz no Mónaco.

“Nem sempre termina de forma perfeita, quando uma lenda do clube se torna treinador”, pode ler-se na descrição.

Fica o aviso para Rúben Amorim

[sc name=”assina” by=”Miguel Esteves, ZAP” url=”” source=”” ]


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