Selecionador alemão diz-se chocado por entrevistados serem questionados se deveria haver mais jogadores brancos na seleção alemã: “Isso é racismo.”
O treinador da seleção alemã de futebol, Julian Nagelsmann, recorreu a palavras fortes este domingo para criticar um inquérito de opinião transmitido pela estação pública de televisão WDR, na Alemanha, no qual se perguntava aos entrevistados se gostariam de ver mais jogadores brancos na equipa nacional.
Nagelsmann defendeu que a pergunta era racista. “Espero nunca mais ter de ler sobre sondagens abomináveis como esta”, afirmou em Nuremberga, na véspera do jogo amigável contra a Ucrânia. “Fiquei chocado que tais perguntas sejam feitas e que haja pessoas a respondê-las”, afirmou.
Nagelsmann referia-se à sondagem realizada pelo programa Sport Inside, da estação pública alemã WDR, cujos resultados indicaram que 21% dos alemães gostariam que houvesse mais jogadores brancos na seleção nacional.
“Tenho a sensação de que precisamos de acordar um pouco. É uma loucura a forma como estamos cegos. Há um número simplesmente inacreditável de pessoas que precisam de fugir, que procuram um país seguro. Jogamos o Campeonato Europeu em nome de todos no país“, salientou.
Capitão chega-se à frente
Nagelsmann também elogiou Joshua Kimmich, um dos líderes da equipa alemã (vai usar a braçadeira quando Ilkay Gundogan estiver ausente no Euro 2024), pelo seu posicionamento “claro e refletido” sobre o tema.
Na véspera, Kimmich tinha tomado uma posição firme contra o racismo ao criticar a sondagem e defender a diversidade na seleção alemã.
“Qualquer um que tenha crescido a jogar futebol sabe que isso é completamente absurdo. O futebol, em particular, é um exemplo de como é possível unir nações diferentes, cores de pele diferentes e religiões diferentes”, declarou o jogador.
Estação defende-se das críticas
O inquérito, realizado pelo instituto de pesquisas Infratest/Dimap para o documentário Unidade, Justiça e Diversidade (alusão ao hino nacional alemão, que começa com as palavras “unidade e justiça e liberdade”) da WDR sobre a diversidade cultural na seleção alemã, foi feito entre 3 e 4 de abril e envolveu 1.304 participantes aleatórios.
Segundo a WDR, 66% dos entrevistados avaliaram positivamente o facto de a seleção ter vários jogadores de origem migratória. No entanto, 17% dos entrevistados lamentaram que o capitão da seleção seja um jogador de origem turca. Atualmente, o cargo é ocupado pelo jogador de 33 anos Ilkay Gündogan, filho de migrantes turcos, que joga no Barcelona.
O diretor de Desportos da WDR, Karl Valks, reagiu às críticas afirmando que a intenção era obter dados mensuráveis sobre uma questão frequentemente ouvida durante as filmagens do documentário.
“O nosso repórter Philipp Awounou foi confrontado em entrevistas, durante as filmagens do documentário com a afirmação de que há muito poucos alemães ‘verdadeiros’, de pele clara em campo. Não queríamos apenas reproduzir isso, mas fundamentar-nos em dados sólidos.”
“Mesmo nós ficámos consternados que os resultados sejam o que são; mas eles também são uma expressão da situação na sociedade alemã atual”, disse Valks, acrescentando que a seleção de futebol alemã é um forte exemplo de integração para a sociedade.
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