Portugal tenta repetir a glória de 2016 a partir deste mês. Será muito provavelmente o último “sprint” do maior goleador da competição mas, desta vez, com outro sabor: as quinas são favoritas e não (só) por causa de Ronaldo.
10 jogos, 10 vitórias e… 10 golos do “Cris”. Foi com este romance (resumindo) que Portugal garantiu a presença no Campeonato da Europa de 2024, que arranca no próximo dia 14 na Alemanha.
Mas o registo invicto é digno desta Seleção recheada de talento de classe mundial: Portugal tem, segundo o Transfermarkt, atrás de França e Inglaterra, a terceira equipa mais valiosa da competição e apresenta-se como grande favorita a vencê-la novamente, depois de o ter feito há duas edições atrás, em 2016.
E entre Bernardos, Brunos e Rúbens, é no mínimo curioso como, aos 39 anos, um certo avançado do Al Nassr, da Arábia Saudita, continua a ser o ícone da Seleção candidata a vencer o Europeu: o sexto — e provavelmente o último — de Cristiano Ronaldo.
Vamos a números
Só Bruno Fernandes fez mais jogos a titular (10) do que o camisa ‘7’ na caminhada lusa de qualificação para o Europeu. Ronaldo só não foi titular na esmagadora vitória frente ao Luxemburgo (9-0) porque… estava suspenso.
Além de ter sido o segundo melhor marcador (só atrás do belga Romelu Lukaku) com 10 golos em nove jogos, Ronaldo também terminou no pódio dos jogadores das quinas que passaram mais tempo dentro de campo, com 726 minutos dentro das quatro linhas. Só o ex-médio do Sporting (844 minutos) e o ex-central do Benfica Rúben Dias (810 minutos) jogaram mais tempo do que o madeirense.
E inevitavelmente salta à vista o velho argumento: “as equipas adversárias (Eslováquia, Luxemburgo, Islândia, Bósnia-Herzegovina e Liechtenstein) eram fracas”. É um facto, mas só se vence quem se enfrenta.
A metamorfose do “menino de ouro”
O posicionamento é, cada vez mais, a grande arma de Ronaldo, e Martínez está ciente disso. A equipa depende cada vez menos do veterano e, se no passado o plano de Portugal passava em grande parte por lhe entregar a bola, na esperança que resolvesse, hoje as coisas são diferentes.
Ronaldo tem tido pouca bola nos pés (teve uma média de 36,9 toques por jogo na fase de qualificação, um valor abaixo da maioria dos colegas de equipa).
Está a transformar-se: se antes pegava no jogo, em drible, e arrastava a equipa consigo, hoje Martínez só lhe exige uma coisa: o instinto matador — e isso reflete-se, mais uma vez, nos números.
Foram poucas as vezes que o vimos driblar na fase de qualificação, e ainda menos as vezes que o vimos cruzar. Em contraste, rematou mais do que qualquer português: 46 vezes (com 19 a ir à baliza adversária).
Os 35 golos em 31 jogos na Arábia Saudita também têm inevitavelmente um peso na consciência de Martínez, mesmo tendo sido apontados no campeonato saudita, claramente inferior em qualidade. Os tentos mostram ao técnico que o veterano ainda os sabe fazer: é isso que importa.
Titular? Martínez fugiu à pergunta
Ronaldo prepara-se para liderar, mais uma vez, a armada lusitana e deve aparecer na fotografia do onze inicial por quatro grandes motivos: a ausência de uma solução óbvia para usurpar o seu lugar, com Gonçalo Ramos e Diogo Jota a não surgirem como indiscutíveis; a sua influência na fase de qualificação; a política “equipa que ganha não mexe” de Roberto Martínez e mesmo as recentes declarações do selecionador sobre a importância do capitão no grupo.
“Não há outro jogador no futebol mundial que possa dar ao balneário aquilo que o Ronaldo dá“, sublinhou o espanhol esta sexta-feira em conferência de imprensa na Cidade do Futebol, em Oeiras.
Questionado sobre a titularidade do CR7, fugiu à questão: “O Cristiano teve um desempenho no clube muito consistente. Não há dúvida de que é um marcador de golos incrível. Vai fazer o sexto Europeu. Um feito único no futebol mundial. A sua experiência é muito importante para nós”.
Afinal, não era o fim da era Ronaldo
Quando Roberto Martínez chegou ao comando com o seu futebol ousado e refrescante, um festival ofensivo — que em muito contrasta com o cuidadoso de Fernando Santos — todos pensaram o mesmo: “e o Ronaldo? Tem espaço? Ou vai ‘aquecer o banco’?”.
Isto porque a coisa pareceu ter azedado quando Fernando Santos “encostou” o capitão, o mais internacional de sempre e maior goleador da seleção das quinas, no Mundial 2022 no Qatar, em que Ronaldo não terá ficado feliz por ter começado dois jogos.
Na bancada, o sentimento dividia-se: se muitos adeptos defendiam a honra do adorado Cristiano, outros tantos pediam que fosse para o banco e desse oportunidade a quem mostrava mais serviço nos clubes. Mas os “mexericos” haviam começado anos antes, na Liga das Nações 2018/19.
A “era Cristiano Ronaldo” tinha acabado, ouvia-se de muitos portugueses, depois de uma campanha em que as promessas da Seleção Portuguesa venceram e convenceram sem o “menino de ouro”.
Apesar de tudo, o espanhol não deixou margem para dúvidas e garantiu, desde a sua chegada em janeiro de 2023, que contava com o capitão. Assim foi, é e será no Euro 2024, que vai decorrer de 14 de junho a 14 de julho. Portugal estreia-se em Leipzig, no dia 18, frente à Chéquia.
[sc name=”assina” by=”Tomás Guimarães, ZAP” url=”” source=”” ]
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