“Isto não é uma equipa de índios”. Abel Ferreira sob fogo no Brasil após frase polémica

Declaração sobre indígenas do técnico do Palmeiras está a gerar indignação e foi condenada pelo Governo brasileiro. Treinador já pediu desculpas.

O treinador do Palmeiras, Abel Ferreira, está a ser criticado depois de uma polémica frase proferida enquanto explicava as dinâmicas da equipa, atual campeã brasileira.

A determinada altura, o português, de 45 anos, disse que “isto não é uma equipa de índios”, algo que rapidamente foi entendido por muitos como uma alusão a uma eventual desorganização da comunidade indígena.

“Esta não é uma equipa de índios. Há uma organização e, dentro dessa organização, há liberdade para gerar e se conectarem. Temos princípios de jogos e um deles é o equilíbrio e o Aníbal é um desses pêndulos”, disse, em conferência de imprensa após a vitória por 3-1 frente ao Atlético Goianense.

#xenofobia ⚽️ Técnico do Palmeiras diz que time ‘não é uma equipe de índios’

👉 Abel Ferreira, usou uma expressão considerada xenofóbica contra indígenas para avaliar a organização do time com a chegada do volante Aníbal Moreno. A declaração do português foi registrada na… pic.twitter.com/mwgndxRsk1

— Cenarium (@cenariumam) July 12, 2024

As declarações de Abel, conhecido do futebol português depois de passagens pelo Sporting e Sporting de Braga — como jogador e treinador — batem de cara com a Lei do Racismo, uma lei federal que prevê a proibição e combate a qualquer forma de discriminação em razão da origem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência e território de origem.

“Peço desculpa a todos”

O treinador já veio pedir desculpa pela expressão que utilizou num país em que vivem 1,7 milhões de indígenas.

“Repudio toda e qualquer forma de preconceito e discriminação. Infelizmente, há expressões que continuamos a perpetuar sem que nos debrucemos sobre o seu conteúdo. Errei ao usar uma dessas expressões na coletiva de imprensa”, escreveu Abel na sua página oficial do Instagram.

“Peço desculpa a todos e, em especial, às comunidades indígenas”, concluiu.

“Vivo e trabalho no Brasil desde 2020 e tenho profundo respeito por todos os brasileiros. As pessoas já conhecem o meu caráter, as minhas condutas e as minhas ações sociais. Sabem também que eu repudio por completo todas as formas de preconceito”, disse ainda o treinador português em comunicado.

Governo brasileiro condena palavras de Abel

A ministra dos Povos Indígenas do Brasil não tardou a condenar as declarações do técnico.

“O técnico do Palmeiras errou, e muito, na sua declaração. Gostaria de convidá-lo a conhecer a história dos povos indígenas do Brasil. E também conhecer a história de colonização de Portugal, seu país de origem, em relação ao Brasil e como estamos trabalhando para rever isso”, escreveu Sonia Guajajara nas suas redes sociais depois de Abel Ferreira ter pedido desculpas.

A mesma ministra, no mesmo contexto, recordou as palavras do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que “admitiu que o país foi responsável por uma série de crimes contra escravos e indígenas no Brasil”. Foi “uma declaração muito importante porque o reconhecimento de tais crimes é o 1.º passo para ações concretas de reparação”, disse a governante.

[sc name=”assina” by=”Tomás Guimarães, ZAP” url=”” source=”” ]