Rui Patrício e William “não eram nenhuns santos” e Jorge Jesus levou uma “vergastada muito levezinha”, foram algumas das declarações feitas pelo ex-presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, no interrogatório a que foi sujeito como suspeito de ser o autor moral do ataque à Academia de Alcochete.
O programa “Sexta às 9” da RTP1 revelou alguns extractos do interrogatório de mais de duras horas que o juiz de instrução criminal Carlos Delca fez a Bruno de Carvalho, antes de o acusar de 101 crimes, incluindo o crime de terrorismo.
“Não, jamais em tempo algum”, referiu Bruno de Carvalho, negando a autoria moral do ataque. “Teria de ser uma pessoa desequilibrada”, referiu ainda, salientando que os seus “46 anos de vida não deixam dúvidas para ninguém” de que é “uma pessoa equilibrada”.
O ex-presidente do Sporting começou por referir que foram os jornalistas que “pediram por amor de Deus” ao porteiro da Academia de Alcochete “para não fechar” as portas para eles entrarem. “Moral da história: quando o senhor queria fechar, já não dava para fechar”, frisou.
Bruno de Carvalho garantiu também que “havia duas medidas de segurança que foram desactivadas no início da época sem [a sua] autorização e sem autorização da Comissão Executiva”, designadamente as “portas de vidro” por onde se vêem passar elementos da claque, aquando das agressões. O dirigente refere que estas portas só abriam com “um cartão”, mas que “a pedido de Jorge Jesus, no início da época que findou”, “desconectaram” o sistema.
O ex-dirigente leonino frisou ainda que só se apercebeu deste dado quando aconteceram as agressões porque era sempre o seu motorista que “abria a porta e entrava”.
De acordo com Bruno, foi Jorge Jesus quem mudou a hora do treino no dia das agressões, ao contrário do que alega o Ministério Público. “Quis passar o treino para a tarde porque achava que já não o ia fazer”, frisou, notando que depois da reunião que mantiveram na véspera do ataque, o treinador saiu “convencido de que está despedido”.
O ex-presidente do Sporting também disse que Rui Patrício e William Carvalho “não eram nenhuns santos”, porque “queriam sair há muito tempo” e “tinham almoços e jantares regulares com a Juventude Leonina”. Até “o próprio Jorge Jesus quis ir jantar com a Juventude Leonina”, sublinhou.
“Eu, tirando as festas de Natal ou aniversários das claques, nunca fui jantar com claque nenhuma”, acrescentou.
Quanto a uma reunião que manteve com elementos da Juventude Leonina, onde o MP alega que deu o seu aval ao ataque, também com base em testemunhos de alguns dos arguidos, Bruno de Carvalho explica que “tinha de acabar a reunião e disse ‘Eh pá, relativamente às tarjas, façam o que quiserem’”. “E sabia que o ‘façam o que quiserem’ era inócuo“, explicou.
Sobre as agressões em Alcochete, Bruno de Carvalho referiu que é tudo “muito estranho”, a começar pelos seis telefonemas registados no processo que Fernando Mendes, ex-líder da Juventude Leonina, fez para ele, depois da derrota frente ao Marítimo.
Sem revelar o que é que Fernando Mendes queria, Bruno destacou que ele “estava completamente embriagado” e que talvez “a intenção fosse só mesmo ficar registado” para o tramar. “Se vir quem é que no final das contas se prejudicou”, atirou como justificação.
Quanto às agressões propriamente ditas, Bruno referiu que esteve dentro do balneário dos treinadores e que Jesus “deve ter” levado “uma vergastada muito, muito levezinha” porque não o viu “com mazela nenhuma”. “Tirando o Bas Dost, algum foi ao hospital mostrar alguma coisa?”, perguntou, concluindo que acha “tudo estranho”.
Perante o juiz de instrução, Bruno também notou que a prisão preventiva para os restantes 38 arguidos do processo é “uma medalha”, enquanto que para ele é “a destruição da [sua] vida”.
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