Há uma relação curiosa entre a data de nascimento dos atletas e o sucesso olímpico

Fernando Pimenta, que trouxe duas medalhas olímpicas para Portugal, nasceu em Agosto

Os atletas que nascem imediatamente depois da data limite que divide os desportos por idades tendem a beneficiar por serem quase um ano mais velhos que os colegas, o que se traduz numa vantagem ao longo da carreira.

Para se destacar nos Jogos Olímpicos, um atleta precisa de várias coisas: bom condicionamento físico, muito treino, resiliência, foco e… ter nascido na ‘época certa‘ do ano.

Sim, a data de nascimento de um atleta pode influenciar as probabilidades de sucesso desportivo.

Investigadores analisaram o futebol na Inglaterra, o hóquei no gelo no Canadá e os competidores dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, para tirar conclusões sobre o impacto das datas de nascimento dos atletas nos resultados.

Em 2009, as escolas de desportos profissionais de jovens ingleses com idades entre 16 e 20 anos eram compostas na sua maior parte por jogadores com datas de nascimento que cobriam um período de três meses.

Os resultados mostram que 57% dos jovens tinham nascido em setembro, novembro ou dezembro, enquanto apenas 14% comemoravam o aniversário em junho, julho ou agosto.

Não se trata de um caso isolado. Num recente Campeonato Europeu de Sub-17, 75% dos jogadores de futebol tinham nascido numa janela de quatro meses.

Resultados semelhantes foram detetados no hóquei no gelo canadiano e nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008.

O efeito da idade relativa

Esta observação é conhecida como o “Efeito da Idade Relativa”, que é determinada pela data limite para a competição por faixa etária.

No futebol inglês, como acontece na escola, as crianças são colocadas em grupos anuais com base no facto de terem nascido antes até 1 de setembro — que é quando começa o ano letivo no Reino Unido.

As crianças nascidas em setembro têm uma vantagem sobre as crianças que vieram ao mundo em agosto porque têm quase um ano inteiro a mais para crescer e se desenvolver.

Isso é exacerbado nas primeiras fases da puberdade, quando as crianças podem desenvolver-se bastante num único ano.

Ainda segundo essa linha de raciocínio, os adultos infelizmente muitas vezes acreditam que as vantagens de tamanho e coordenação — que naturalmente se desenvolvem mais cedo em crianças nascidas no início do ano letivo — se traduzem em melhores desempenhos.

Os treinadores de futebol e hóquei no gelo que precisam selecionar a equipa muitas vezes confundem talento com idade e, frequentemente sem perceber, escolhem uma equipa com jovens maiores, mais desenvolvidos e com maior probabilidade de vencer.

O efeito cumulativo

“Crianças nascidas imediatamente após o ponto de corte no seu desporto ou país específico são geralmente maiores e, portanto, são mais propensas a serem escolhidas nos seus primeiros anos, o que leva a uma vantagem cumulativa“, concorda Ben Oakley, professor de Educação de desempenho desportivo da The Open University, no Reino Unido.

Imagine, então, que aos 10 anos, é selecionado para uma equipa e identificado como um “talento”. Os seus pais ficam radiantes de orgulho e os treinadores investem mais tempo no seu progresso; obtém mais atenção, prática e oportunidades para jogar.

Em pouco tempo, essa vantagem da maturidade amplia-se. Além disso, sente-se mais confiante de que é bom em alguma coisa.

E há uma coisa que todos nós sabemos sobre a psicologia do desempenho: é provável que se persista em algo novo quando se consegue alguma forma de sucesso precoce.

O jogador menor e menos desenvolvido, portanto, precisa de ser resiliente às reviravoltas que provavelmente experimentará, o que não é fácil para uma criança de 10 anos.

Eventualmente, depois de alguns anos, elas costumam ficar desanimadas e podem deixar o desporto.

No Canadá, o mesmo processo ocorre no hóquei no gelo. No entanto, como a data limite da seleção de hóquei por lá é o ano regular (ou seja, 1º de janeiro), atletas nascidos nos meses de janeiro, fevereiro e março são os mais favorecidos.

Desportos olímpicos

As implicações do “Efeito da Idade Relativa” para os desportos olímpicos são mais complexas.

Para começar, a data limite para muitos dos desportos olímpicos é novamente 1 de janeiro. Além disso, há grupos classificados por peso, como boxe, luta livre, taekwondo e judo.

No entanto, alguns resultados interessantes surgiram quando alguns investigadores se aplicaram à tarefa monumental de analisar as datas de nascimento de todos os 18.132 competidores dos Jogos Olímpicos de 2008, realizados em Pequim.

No geral, havia mais competidores do sexo masculino e feminino nascidos no primeiro trimestre do ano do que em qualquer outro trimestre.

Claro que há muitas exceções a essas descobertas, mas a ideia geral é que as crianças nascidas imediatamente após o ponto de corte no seu desporto ou país específico são geralmente maiores e, portanto, mais propensas a serem escolhidas nos seus primeiros anos, o que gera uma vantagem cumulativa.

Compreender o “Efeito da Idade Relativa” ajuda os pais e treinadores a refinar o que eles percebem como marcadores de talento.

[sc name=”assina” by=”ZAP” url=”https://www.bbc.com/portuguese/articles/cly8z4r9xelo” source=”BBC” ][/sc]


Comentários

2 comentários a “Há uma relação curiosa entre a data de nascimento dos atletas e o sucesso olímpico”

  1. Provavelmente não só no desporto

  2. Já sei disso há imenso tempo, acho que todos sabem disso (vê-se nas camadas jovens de formação de qualquer clube)
    Inclusive não só no desporto, mas também na escola também se vê isso.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *